Pazuello e Mayra Pinheiro acusaram o jornalista que denunciou a fraude de hackear o TrateCov. Jornalista desmente. Apenas usou o código fonte “público” do aplicativo. “Por que não chamaram a PF para fazer a perícia?”, questionou Otávio Guedes, da Globonews
Eduardo Pazuello afirmou, em seu depoimento à CPI da Pandemia, que o aplicativo TrateCov, criado com o obtivo de receitar cloroquina, havia sido hackeado. Alguém teria “alterado com dados lá dentro”, disse ele.
A secretária Mayra Pinheiro, por sua vez, não só confirmou, em seu depoimento ocorrido na terça-feira (25), a narrativa de Pazuello, como deu o nome do suposto hacker: o jornalista Rodrigo Menegat.
A única diferença é que, em na versão da capitã cloroquina, Menagat não teria hackeado, mas apenas “invadido” e “roubado” dados do sistema.
Os dois foram tão cínicos em suas declarações aos senadores que apontaram como responsável pelo suposto crime exatamente a pessoa que denunciou o TrateCov como sendo um instrumento que viabilizava o uso indiscriminado de cloroquina.
Rodrigo Menagat foi quem descobriu que praticamente qualquer sintoma inserido no dispositivo criado em janeiro pelo governo Bolsonaro, apontava para o uso da substância ineficaz. Até mesmo para recém-nascidos. Ou seja, era um “aplicativo” para “legalizar” o charlatanismo.
Como disse o jornalista Otavio Guedes, da Globonews, em seu blog: Espirrou? Cloroquina. Tossiu? Cloroquina.
Menegat, citado por ter supostamente hackeado o sistema TrateCov, se defendeu nas redes sociais explicando que usou o inspetor de elementos para acessar o código fonte do aplicativo, que é acessível a todos pela ferramenta.
“Engraçado como esse negócio cai no meu colo. Eu não fui nem o primeiro a chegar na festa. Todos os jornalistas do mundo já estavam usando o aplicativo. Impressionante como um repositório do GitHub e inspetor de elementos parece bruxaria para quem não entende de programação”, escreveu Menegat.
“Estou fechando o Twitter por motivos mais que óbvios, mas vou ficar bastante satisfeito de mostrar para quem quiser como se usa o inspetor de elementos para acessar código fonte de qualquer site no mundo”, disse o jornalista, ao anunciar a saída das redes sociais após receber ameaças.
O ‘expert’ Pazuello chegou a classificar o dispositivo como “calculadora”, ou seja, mostrou que sua ignorância em Saúde não se limitava a desconhecer o SUS (Sistema Único de Saúde), como ficou explícito no embate com o senador Otto Alencar (PSD-BA) na CPI, mas também sobre outras questões básicas ligadas à medicina. Não soube diferenciar um aplicativo que aponta as condutas a serem adotadas, de acordo com um score de sinais, sintomas e condições epidemiológicas, com uma simples calculadora.
“Nós contratamos o presidente da Associação Nacional dos Peritos Forenses em informática, que emitiu um laudo de 20 páginas comprovando a invasão, a retirada indevida dos dados”, explicou Mayra à CPI. “Ora, questionou o jornalista da Globonews, por que não pediram que a Polícia Federal fizesse uma perícia oficial?”
“O que Rodrigo Menegat fez, sem raquear nada, apenas acessando o código-fonte ‘público’ do aplicativo, foi comprovar que qualquer dado inserido no “engenho” bolsonarista apontava para o uso da cloroquina. Então, a “prova” de que o aplicativo teria sido rackeado também é uma farsa”, disse Guedes.
O TrateCov não foi, portanto, retirado do ar porque teria sido hackeado ou modificado, como alegaram os dois depoentes, com algumas pequenas nuances em suas versões. Ele foi retirado do ar porque foi denunciado como sendo um instrumento para sustentar o uso indiscriminado de cloroquina. Até para crianças recém-nascidas, como comprovou o jornalista.
Por isso, Mayra Pinheiro e Eduardo Pazuello não acionaram a Polícia Federal para investigar o suposto crime cometido por Rodrigo Menegat. Eles preferiram uma perícia extraoficial para sustentar a sua versão fraudulenta.