
Após uma longa e tenebrosa espera de 45 dias, uma criança brasileira de 9 anos que havia sido sequestrada pelo governo dos Estados Unidos ao tentar cruzar a fronteira, voltou aos braços da mãe no último sábado. Vindos de Cuparaque, Minas Gerais, o menino A e sua mãe W conseguiram uma sentença favorável que possibilitou que o pequeno deixasse o abrigo onde estava em Baytown, no Texas, e aguardar o pedido de asilo em liberdade.
“Independentemente do nosso status migratório, raça, etnia ou cor da pele, deveríamos ser tratados como seres humanos. Estamos aqui porque procuramos saúde e segurança. Infelizmente, não encontrei segurança quando cheguei aqui. Fui colocada numa jaula e tratada como um animal. Eles me algemaram e me tiraram meu filho”, declarou W.
A reunião só foi possível devido ao auxílio do Centro do Trabalhador Brasileiro em Boston, que mobilizou advogados e venceu a disputa. Sem falar inglês, W precisou da ajuda até mesmo para preencher os documentos necessários à libertação do seu filho. Com a ajuda do Centro, a mãe travou uma intensa batalha judicial para que a família conseguisse se reencontrar.
Cerca de 3 mil crianças e adolescentes continuam presos, confinados em abrigos que mais se parecem celas, amplamente condenados pelas organizações de direitos humanos pelas absurdas regras – que impõem injeções calmantes para os insubordinados -, pela fome e pelo frio a que são expostos.
Os responsáveis pelo Centro informaram que A e W venceram um sistema muito burocrático, com “claras violações dos seus direitos humanos”. “Foi tudo muito emocionante. A reunião deles foi um alívio muito grande, porque todos nós estávamos sofrendo juntos. Ela chorava, não comia e às vezes não dormia. Ficávamos no telefone o dia todo. Sem o apoio dos nossos contatos, não teríamos conseguido isso. O menino não quer falar sobre o que passou no abrigo, mas está bem neste momento”, relatou Natalícia Tracy, líder do Centro, que conseguiu o apoio de parlamentares para agilizar o processo de reunificação.
“O governo falhou em apresentar um único fato ou base legal para a separação inicial, quanto mais para sua recusa de reunir a família que ilegalmente quebrou”, apontou Ivan Espinoza-Madrigal, do Comitê de Advogados, que atuou no caso. “É uma campanha deliberada do governo para intimidar e punir imigrantes”, afirmou, acrescentando que o governo tenta inviabilizar que se requeira legalmente o asilo e encorajar “a autodeportação para poder ser reunido com seus filhos”.
“Estamos sob cerco. Não deveria ser preciso um processo judicial para reunir filhos com os pais”, afirmou Tracy. “Como imigrantes, mesmo nossos direitos humanos fundamentais e direitos civis estão sob ataque”. Com a política de “tolerância zero”, o governo Trump começou a separar as famílias de migrantes que tivessem atravessado a fronteira a partir de abril deste ano, processando criminalmente os pais, enquanto os filhos são encarcerados em condições subumanas.
Diante da crescente reprovação popular, Trump resolveu flexibilizar o escárnio, aceitando dar início ao processo de reunificação das famílias. Por determinação judicial, até o próximo dia 26 de julho todos os menores até 17 anos devem ter deixado os abrigos para onde foram enviados desacompanhados de responsáveis.