Após 6 anos de prisão injusta e ilegal, três camponesas sobreviventes ao massacre realizado em Marina Kue, Curuguaty, no dia 15 de junho de 2012 ganharam liberdade no Paraguai. Vítimas de uma aberração jurídica que transformou inocentes em culpados após o assassinato, por franco-atiradores, de seis policiais e 11 camponeses, Lúcia Agüero, María Fani Olmedo e Dolores López são parte do grupo de trabalhadores rurais condenados a até 35 anos de prisão, acusados de “homicídio doloso”, “organização criminosa” e “invasão de imóvel alheio”. O morticínio, com digitais made in USA, abriu caminho ao golpe contra o presidente Fernando Lugo uma semana depois.
Como comprovaram os advogados, mesmo se quisessem se contrapor ao imenso cerco feito por 324 policiais com armas de grosso calibre – e até helicóptero – os menos de 60 sem-terra, metade deles idosos, mulheres e crianças, jamais contaram com algo além de umas poucas armas velhas. Garruchas para caçar animais de pequeno porte que nunca dispararam.
Os tiros que mataram policiais e camponeses vieram mesmo de armas que os sem-terra nunca possuíram. A única “organização” que conformaram nada tinha de criminosa, uma vez que foi solicitada pelo próprio Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra (Indert) para que pudessem pleitear o benefício da reforma agrária. E, tão ridícula quanto as demais acusações, a de invasão de imóvel cai por terra na medida em que o território de Curuguaty é público.
“Estes anos na prisão foram injustos, porém estou orgulhosa de mim porque eu não fui à prisão por uma causa, mas por uma injustiça. Também estou orgulhosa de meus companheiros que continuam presos e dos que estão livres. Por isso irei a Marina Kue ajudar aos que necessitam”, destacou Lucía Agüero. Naquele fatídico dia ela foi até o local para ajudar os irmãos, quando um deles foi assassinado e ela trancafiada: “Muitas vezes não pude dormir e recordo como se matavam as pessoas”. Durante o tempo em que ela e o filho de 11 anos de idade tiveram que ficar em prisão domiciliar, contou, houve momentos em que passou fome longe da família, sem poder sair e buscar outro tipo de emprego.
De acordo com Guillermina Kanonnikoff, ex-presa política da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989) e dirigente do movimento de solidariedade aos presos de Curuguaty, “a luta agora é para ampliar a pressão nacional e internacional, a fim de que sejam revogadas imediatamente as absurdas condenações de Rubén Villlaba (35 anos), Luis Olmedo (20 anos), Arnaldo Quintana e Nestor Castro (18 anos)”. “É preciso que esta injustiça seja reparada e todos possam, em Curuguaty, somar forças e mostrar o potencial do trabalho coletivo”, frisou.