IFA da vacina AstraZeneca também é produzido na China; governadores atuam para normalizar processo, enquanto Bolsonaro ataca o país asiático
Depois do Instituto Butantan anunciar a paralisação da fabricação da CoronaVac, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou, nesta quinta-feira que vai interromper o envase de doses da vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca, a partir da semana que vem, também por falta de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA).
A Fiocruz entregou, nesta sexta-feira (14), mais 4,1 milhões de doses da vacina. Com este lote, serão 34,3 milhões de vacinas disponibilizadas ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), o equivalente a 40% dos imunizantes para a Covid disponíveis no país. Porém, de acordo com a instituição, a chegada de mais uma remessa IFA está prevista apenas para o próximo dia 22 e outra para o dia 29.
Segundo a Fiocruz, a quantidade de IFA disponível atualmente vai sustentar a produção de vacinas até meados da próxima semana, garantido dessa forma as entregas até a primeira semana de junho. Depois disso, no entanto, a fundação depende da chegada de mais insumos da China.
“Até a chegada do IFA dia 22 haverá interrupção na produção de alguns dias na próxima semana. Se houver impacto nas entregas será comunicado mais à frente. As entregas permanecem semanais, às sextas, conforme pactuado com o Ministério da Saúde, seguindo logística definida pela pasta”, disse a fundação, em comunicado.
Mais cedo, o Instituto Butantan havia informado a interrupção nesta sexta-feira do envase da CoronaVac, vacina contra Covid-19 da chinesa Sinovac, também por falta do IFA que é importado da China.
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que o laboratório aguardava a liberação do envio de 3 mil litros até esta quinta (13), mas até o momento, não há previsão de que a entrega será autorizada e a produção da CoronaVac vai ser retomada.
“Até o fim da semana passada, havia a perspectiva de autorização de exportação no dia 13. Na reunião de hoje, vimos que essa previsão não vai se cumprir. Portanto, não temos data neste momento para essa autorização. Estamos aguardando, isso pode acontecer a qualquer momento, mas por enquanto não há essa previsão”, explicou Covas.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB) se reuniu com o embaixador da China no Brasil para tentar negociar o envio do produto, mas até o momento isso ainda não aconteceu.
Doria também disse que os recentes ataques de membros do governo federal contra a China podem ter influenciado na paralisação da entrega do IFA. “Então, é muito importante que a diplomacia brasileira, o ministro das Relações Exteriores, os embaixadores possam atuar para que o governo chinês libere o embarque destes 10 mil litros de insumos da vacina do Butantan”, completou Doria.
Ritmo da imunização cai 57%
Enquanto isso, o ritmo de vacinação contra a Covid-19 caiu pela metade no Brasil nos últimos 14 dias. Além disso, o país foi ultrapassado por Alemanha, Reino Unido, França e Itália no número de doses aplicadas por dia.
A média diária de vacinação foi de 995 mil em 29 de abril para 429 mil na quarta-feira (12), apontam dados do “Our World in Data”, projeto ligado à Universidade de Oxford.
Com a redução de 57% em apenas 2 semanas, o Brasil caiu de 4º para o 8º país que mais aplica doses de vacina contra a Covid-19 por dia. A China lidera o ranking, com uma média de 9,23 milhões:
Com 212 milhões de habitantes, o Brasil é o sexto país mais populoso do mundo, mas foi ultrapassado na vacinação diária por países que têm muito menos habitantes (a Alemanha tem 83 milhões de habitantes, Reino Unido e França têm 67 milhões cada um e a Itália, 60 milhões).
A situação fica ainda pior se for observado o ranking proporcional. O Brasil é apenas o 82º no ranking de vacinas aplicadas por dia em relação à sua população.
A média de vacinação diária no Brasil chegou a atingir um pico de 1,14 milhão de doses há exatamente um mês, em 13 de abril, mas o país não conseguiu manter o ritmo.
Foi o único dia em que o país superou a média de 1 milhão de doses aplicadas. Em 13 de abril, foram administradas um recorde de 3,37 milhões de vacinas contra a Covid-19.