Após decisão judicial, o governo Bolsonaro suspendeu a nomeação de Sérgio Camargo para a presidência da Fundação Palmares. A suspensão foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), na quarta (11).
Leia mais:
Fundação Palmares: Justiça bloqueia nomeação de capitão-do-mato
CNAB: racista na Fundação Palmares é um acinte
“Racismo é doença e esse Sérgio Camargo está em estado terminal”, diz Martinho
“Perverso e criminoso”, diz Leci sobre Sérgio Camargo na Fundação Palmares
Seis ex-presidentes defendem a Fundação Palmares e repelem ataque
A decisão foi emitida pelo Juiz Emanuel José Matias Guerra, da 18ª Vara Federal do Ceará, que determinou a suspensão após ação popular movida pelo advogado Hélio Costa.
Sérgio Camargo é conhecido por usar suas redes sociais para atacar o movimento negro e deslegitimar a luta contra o racismo no Brasil. Sua nomeação para a presidência da Fundação Palmares gerou grande reação e protestos em diversos segmentos da sociedade.
Em sua decisão, o juiz Matias Guerra afirmou que há “diversas publicações” feitas por Sérgio Nascimento que têm o “condão de ofender justamente o público que deve ser protegido pela Fundação Palmares”.
Camargo foi nomeado no dia 27 de novembro. Pouco depois, no dia 3 de dezembro, publicou um comentário em suas redes sociais sobre os atos e manifestações realizados em comemoração ao dia de Zumbi dos Palmares, 20 de Novembro. Disse ele que “sente vergonha e asco da negrada militante”. “Às vezes, pena. Se acham revolucionários, mas não passam de escravos da esquerda”, disse.
No dia seguinte (04), o juiz Guerra determinou a suspensão da nomeação de Camargo por haver incompatibilidade com o cargo, uma vez que a Fundação tem por propósito promover a cultura afro-brasileira, enquanto o jornalista expunha posicionamentos de cunho racista em suas redes sociais.
“Ela [a Fundação Palmares] deveria agir para defender a cultura afro-brasileira. Para preservar, para ampliar os nossos direitos. E, infelizmente, esse senhor não veio para gerir, ele veio para desconstruir todo o legado que vários negros e negras construíram”, disse Claudia Vitalino, presidente da Unegro. Diversas entidades também realizaram um abaixo assinado exigindo a saída de Camargo do cargo.
“O movimento negro surge no primeiro negro que foge da senzala. No primeiro negro que se volta contra a escravidão. Aqui, surge o movimento negro. Então, o movimento negro vem lá da época de Zumbi, das Dandaras. Não tem nada a ver com esquerda ou direita”, explicou Silvio Henrique, do Conselho da Igualdade Racial.
O cidadão chegou até mesmo a defender o fim do Dia da Consciência Negra, o que gerou crítica até mesmo de seu irmão, o músico e produtor cultural Oswaldo de Camargo Filho, conhecido como Wadico Camargo: “Tenho vergonha de ser irmão desse capitão do mato, Sérgio Nascimento de Camargo, hoje nomeado presidente da Fundação PALMARES”, escreveu Wadico em seu perfil no Facebook. Após a repercussão, a publicação foi apagada.
Para o advogado que moveu a ação, a decisão foi “uma vitória” do movimento negro. “Não pode alguém que nega o racismo e a importância do movimento negro ficar à frente da importante Fundação Cultural Palmares, que foi criada pelo legislador justamente para promover e preservar a cultura afro-brasileira, assim como enfrentar o racismo institucional e estrutural existente em nosso país”, afirmou.