Caminhões pipa contratados pela Hydro Alunorte estavam distribuindo água imprópria para o consumo humano aos moradores de Barcarena, no Pará
O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) pediu a instauração de um inquérito policial para apurar a responsabilidade sobre os caminhões-pipa, contratados pela mineradora Hydro Alunorte, estarem levando água imprópria para consumo humano aos moradores de Barcarena. A Secretaria de Estado de Saúde Pública do Estado do Pará (SESPA) confirmou a contaminação por metais pesados.
A mineradora está sendo obrigada a fornecer água aos moradores desde fevereiro, após ser constatado o vazamento de rejeitos que impactaram os rios da região, a saúde e nos meios de subsistência da comunidade local.
Depois do vazamento, confirmado através de laudo do Instituto Evandro Chagas, constatou-se em vistorias outras irregularidades praticadas pela Hydro, como dois dutos de despejo de rejeitos irregulares diretamente no rio.
O MPPA também anunciou, na última sexta-feira (20), uma série de recomendações à Hydro, entre elas, o fornecimento imediato de água potável às comunidades atingidas pelo vazamento, a paralisação das atividades da bacia DRS-2 (que funciona de forma irregular), e providências imediatas para operacionalização do plano de emergência.
METAIS PESADOS
Além de identificar contaminações em diversas fontes de água nas comunidades de Barcarena, a SESPA identificou que a água fornecida pelos caminhões pipa para as comunidades Bom Futuro, Itupanema, Vila Nova, Jardim Cabano e Burajuba, está contaminada por metais pesados.
Nas comunidades de Itupanema, Vila Nova e Jardim Cabano foi encontrada a presença de Alumínio acima do valor máximo permitido, que é de 0,2mg/L.
Na comunidade Bom Futuro a água fornecida pelo caminhão pipa estava com chumbo e magnésio acima do valor permitido. Enquanto a água dos poços, estava com coloração, pH, nitrato e turbidez irregular.
Na comunidade Burajuba as amostras tiveram resultado insatisfatório na coloração e pH, e cloro residual abaixo do valor mínimo na amostra de água tratada.
A Sespa confirmou que a distribuição em caminhões é de responsabilidade da Hydro.
Na semana passada, lideranças de Barcarena denunciaram, na Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Pará, que as águas dos poços e rios estavam contaminadas e que várias comunidades não haviam sido incluídas na rede de distribuição de água da Hydro.
Ângela, líder da comunidade Vila Nova, relatou que o fornecimento de água era realizado apenas uma vez por semana e que só para algumas casas “escolhidas”. “Muita gente continua usando a água dos poços, que sabemos que está contaminada. Algumas casas estão a apenas 250 metros da bacia de rejeitos da Hydro e descobrimos tubos clandestinos. Tem criança com febre alta e dor de barriga. A nossa situação é precária”, relatou.
Também na reunião da Comissão, Ludmila de Oliveira, da Associação Cainquiama, alertou para o abastecimento urgente em todas as comunidades. “Já sabemos que está tudo contaminado. Precisamos forçar a empresa a ampliar essa cobertura emergencial”, afirmou.
A mineradora informou que seguirá a recomendação do Ministério Público, suspendendo a distribuição de água em caminhões pipa, e manterá a distribuição de água mineral para as comunidades Burajuba, Vila Nova e Bom Futuro. A Hydro afirmou ainda que a água distribuída pelos caminhões pipa vem da estação de tratamento de água da concessionária local, Águas de São Francisco, de responsabilidade do município de Barcarena.
CAMILA SEVERO