
Desde a morte do líder indígena Paulo Paulino Guajajara, assassinado em uma emboscada na última sexta-feira (1), as brigadas de incêndio da Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, travam dura batalha contra queimada de grande proporção na região das aldeias Zutiwa e Abraão. Este já é o segundo registro de incêndio no ano.
De acordo com o voo realizado com apoio do governo estadual para medir o tamanho do problema foi constatada uma linha com quase 50 km de extensão de fogo que avança pela porção oeste da Terra Indígena, se aproximando do território do povo Awá-Guajá, que está em situação de isolamento voluntário.
Dados do Instituto Socioambiental (ISA) apontam mais de mil quilômetros de estradas clandestinas e quase 5.000 alertas de desmatamento na Terra Indígena Arariboia.
A análise do ISA encontrou ao menos 105 km de estradas clandestinas abertas só em outubro de 2019, os chamados de ramais madeireiros. Além dos ramais, foram detectados 258 alertas de exploração ilegal de madeira. O ISA realiza um monitoramento mensal das ameaças no território. Esse material tem subsidiado ações de campo dos guardiões da floresta, grupo de proteção territorial indígena do qual Paulo Guajajara fazia parte.
Desde que esse monitoramento começou, em setembro de 2018, foram detectados 4.863 alertas e 1.248,5 quilômetros de ramais.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), criou uma força-tarefa para apoiar órgãos federais na proteção de índios e suas terras. A decisão foi tomada após o conflito que resultou na morte do líder indígena Paulo Paulino Guajajara, ele teria sido vítima de uma emboscada, na Terra Indígena Arariboia, no município maranhense de Bom Jesus das Selvas, na última sexta-feira (1).
Na sexta-feira, Paulo Paulino Guajajara e Laércio Guajajara foram surpreendidos por uma emboscada enquanto caçavam dentro da TI, na região da Lagoa Comprida. Laércio ficou ferido, mas conseguiu escapar. Paulo foi atingido no rosto e morreu na hora. Depois de se esconder na mata, Laércio correu por 10 km até encontrar ajuda. Os dois faziam parte dos guardiões da floresta.
O combate está sendo feito por seis brigadas do PrevFogo, treinadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Duas destas brigadas são da própria Arariboia, das aldeias Jussaral e Zutiwa. Outras três se deslocaram das Terras Indígenas Governador, Krikati e Kanela sendo a sexta uma brigada especializada do município de Grajaú. São cerca de 60 indígenas e não indígenas se revezando em turnos. Pelo fato de serem poucas pessoas trabalhando, o cansaço e a exaustão dificultam o trabalho na contenção do fogo.
A mobilização ainda é insuficiente para derrotar o fogo. “Não vem tendo muito resultado. Tá distante o fogo e o caminho de acesso é muito complicado. Tem dias que eles vão a pé, mas quando chegam no fogo é tarde demais. Precisaria de aeronaves, mais equipamentos. Já está distante, muito dentro da floresta, não tem como fazer por via terrestre”, explica Zezico Guajajara, liderança da aldeia Zutiwa.
O Guajajara fala também sobre a dificuldade com alimentação. “Os homens trabalham de forma intensa. A alimentação levada para a frente de combate, às vezes, é água e farinha. Então falta esse apoio de alimentação e transporte. Muitos dias trabalhando com fogo não é para qualquer um, é muito desgastante”, diz.
Nos últimos quatro anos, três incêndios de grandes proporções ocorreram na Arariboia, contando com este que segue em curso de devastação. O de 2015, queimou mais da metade da Terra Indígena de 413.288 hectares. Entre janeiro e agosto de 2019, houve um aumento de 88% em focos de incêndio nas terras indígenas do Brasil, se comparado com o mesmo período de 2018.
Segundo o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, do Conselho indigenista Missionário (Cimi), o fluxo de invasores às Terras Indígenas entre janeiro e setembro de 2019 bateu recorde se comparado com o mesmo período dos anos anteriores. Foram contabilizados 160 casos de invasão a 153 terras indígenas de 19 estados, entre elas a Terra Indígena Arariboia.
A recuperação da floresta, por outro lado, leva anos. O Guajajara questiona como fica a vida dos Awá-Guajá depois do fogo apagar.
“É o que eles têm. A mata fica em cinzas, sem animais, sem árvores, sem nada. Como eles vão sobreviver?”. Soma-se a isso o fato de que nos últimos anos a Terra Indígena foi bastante castigada por incêndios, sendo um deles declarado oficialmente pelo Ibama como de origem criminosa. Os Awá também convivem com os invasores habituais: os madeireiros.
FORÇA TAREFA
A Força-Tarefa de Proteção à Vida Indígena é integrada pela Polícia Militar, Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros e vai atuar por tempo indeterminado. O decreto foi publicado no Diário Oficial nessa segunda-feira (4).
O Secretário de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular, Francisco Gonçalves da Conceição, destacou a importância da força-tarefa para proteção dos povos nativos e ressaltou o compromisso do governo maranhense com os órgãos federais em defesa da vida indígena no estado.
O decreto determina ainda que boletins de ocorrência registrados nas delegacias do Maranhão, que tenham por natureza a violação dos direitos indígenas, sejam comunicados imediatamente à coordenação da força-tarefa.
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