Os diretores de sete departamentos da agência também serão substituídos
O diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alessandro Moretti, foi demitido no final desta terça-feira (30) pelo governo Lula após a operação da Polícia Federal que investiga a espionagem ilegal durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
No lugar de Moretti vai assumir o diretor da Escola de Inteligência da Abin, Marco Cepik.
Cepik é cientista político e já foi diretor-executivo do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (CEGOV) em Porto Alegre (RS). Os diretores de sete departamentos da Abin também serão substituídos.
Após a operação contra a arapongagem da agência no governo passado, o relator do processo, ministro Alexandre de Moraes, suspendeu o sigilo da sua decisão e revelou as queixas da PF sobre a atuação da cúpula da Abin.
Segundo a PF, integrantes da atual direção da agência interferiram e até prejudicaram as investigações ao dificultar o acesso a dados.
“A preocupação de ‘exposição de documentos’ para segurança das operações de ‘inteligência’, em verdade, é o temor da progressão das investigações com a exposição das verdadeiras ações praticadas na estrutura paralela, anteriormente, existente na Abin”, diz relatório da PF enviado ao STF.
No relatório, a corporação aponta até possível “conluio” entre os investigados da gestão anterior da agência com os integrantes da atual gestão, “cujo resultado causou prejuízo para a presente investigação, para os investigados e para a própria instituição”.
A agência negou que tivesse colocado obstáculos e diz em nota que colaborou com as investigações. “Tem 10 meses que a atual gestão vem contribuindo com os inquéritos da PF e STF. A Abin é a maior interessada em esclarecer eventuais ilícitos e vai continuar colaborando com as investigações”, afirmou a agência.
Embora não houvesse denúncia concreta contra Moretti, pesou ainda para sua demissão a possível relação de amizade com Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e um dos investigados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.
Moretti estava no cargo desde março de 2023. Delegado da Polícia Federal, ele assumiu em março de 2022 a Inteligência do órgão, cargo que ocupou até o fim do governo Bolsonaro.
Ele foi secretário-executivo da Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal entre 2019 e 2021, na gestão de Anderson Torres.
A operação da PF teve como alvo o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, íntimo da família Bolsonaro e atual deputado federal do PL pelo Rio de Janeiro.
Sob sua gestão os arapongas da Abin utilizaram, ilegalmente, o programa de espionagem First Mile, produzido por uma empresa israelense.
Esse programa foi utilizado para monitorar adversários do governo Bolsonaro e autoridades, sem autorização judicial. Mas há notícias de que até aliados bolsonaristas foram espionados. Dezenas de milhares foram monitorados pelo programa espião.
Entre os espionados está a promotora de Justiça do Rio, Simone Sibilio, responsável por investigar o homicídio da vereadora Marielle Franco. Ela também investigava a ação das milícias no Rio de Janeiro.
O mais recente alvo das operações é o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Computadores, notebook e pen drives de Carlos foram apreendidos. Ele tinha ligações próximas com Ramagem e chegou a pedir, através de sua assessora, informações sobre inquéritos em que os Bolsonaros eram alvos.