Bandeira vermelha nível 2 é mais arrocho em cima do consumidor
Após o apagão que deixou diversos estados brasileiros sem luz por 20 minutos na manhã de sexta-feira (28), de noite, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), com aval do governo Bolsonaro, decidiu que as famílias terão que arcar com um custo adicional de R$ 6,24 por cada 100 kWh na conta de luz no mês de junho, quando será aplicada a bandeira vermelha nível 2. No mês de maio, os consumidores já estavam pagando R$ 4,169 para cada 100 KWh, pela bandeira vermelha patamar 1.
Segundo a agência de energia, ocorreu um problema na linha de transmissão que leva energia elétrica do Pará para o restante do país que desligou sete turbinas da usina hidrelétrica de Belo Monte e deixou diversos estados sem energia por cerca de 20 minutos, atingindo o Norte, o Nordeste, o Centro-Oeste e locais da região Sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás.
No mesmo dia, o governo publicou um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em cinco Estados brasileiros: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.
Segundo o o ex-conselheiro de Furnas e diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), Roberto Pereira D’Araujo, ao avaliar a possibilidade de um novo apagão como o que ocorreu em 2001, declarou: “apesar da situação hidrológica estar pior do que o ano do racionamento, hoje temos quase 30 GW de térmicas, portanto acho difícil termos outro [apagão]. O problema é que 40% delas são muito caras e não foram utilizadas antes. Portanto, em parte, quem gerou energia no lugar delas foram as hidráulicas. Ou seja, o esvaziamento da reserva não é só culpa de S. Pedro”.
O motivo pelo acionamento da bandeira no seu estágio mais grave – a vermelha nível 2 – se dá pelo baixo nível de armazenamento de água nos reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por mais da metade da capacidade de geração do país. No período de setembro de 2020 a abril, o Brasil registrou o menor volume de chuvas na área dos reservatórios das hidrelétricas do Sistema Interligado Nacional (SIN) desde 1931.
Com a possibilidade de um novo apagão energético, o governo decidiu acionar mais usinas termelétricas, que geram energia a partir da queima de combustíveis, como carvão e diesel, e portanto são muitíssimos mais caras que os custos da geração de energia das hidrelétricas.
Todavia, este tipo de ação poderia ser evitada através de uma política nacional que buscasse novas fontes de energia, mais baratas, como hidrelétricas, eólicas e solar, que possam suprir as gerações de energia quando os níveis dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste estiverem baixos – com não há tal planejamento – os custos do acionamento das caríssimas térmicas são repassados aos consumidores brasileiros. Além da pior crise sanitária de sua história, os brasileiros enfrentam uma economia em recessão, com mais de 33 milhões de pessoas em busca de emprego no país, e com a inflação corroendo o poder de compra das famílias.
O governo Bolsonaro não tem nenhum planejamento contra a crise energética e muito menos para baixar os custos das tarifas de energia aos consumidores, ao contrário, o Bolsonaro propõe entregar a geração de energia brasileira, através da privatização da Eletrobrás, ao capital estrangeiro, uma ação que vai elevar ainda mais os preços das tarifas de energia aos consumidores, como afirmou Roberto D’Araujo, em entrevista recente ao HP.
“Nenhum país de base hidroelétrica significativa privatiza seu setor elétrico. China, Estados Unidos, Canadá, Rússia, Japão, Suécia, Noruega e Índia não caíram nessa esparrela”. “Hoje, a tarifa está cara mesmo com a Eletrobrás sendo obrigada a vender energia bem abaixo do preço dos privados. Cerca de 16% das usinas estão afetadas pela lei 12783/2013 da Dilma, por volta de R$ 60. Imagine se essa energia subir para R$ 200”, destacou o engenheiro.