
O Procon de Santa Catarina notificou, na última quinta-feira (21), a loja Zara, localizada em um shopping em Florianópolis (SC), para que informe sobre a existência de um “código” para discriminação de pessoas. O órgão de defesa do consumidor estipulou um prazo de 10 dias para que a multinacional se posicione.
A medida ocorre após abertura de investigação pela Polícia Civil do Ceará para investigar denúncia de discriminação racial contra a delegada Ana Paula Barroso em uma loja da marca, em Fortaleza, capital do Estado, no mês passado (14 de setembro).
Com a repercussão do caso pela imprensa nacional e após depoimento de testemunhas e ex-funcionários da loja, o Procon-SC decidiu investigar se essa prática também ocorre no Estado. “Após uma delegada ter denunciado ser vítima de racismo pelo gerente da loja, as investigações e depoimentos de testemunhas e ex-funcionários apontaram que supostamente existe um código de conduta compatível com este tipo de crime”, aponta o Procon.
De acordo com as informações obtidas pelas testemunhas, os funcionários seriam orientados a usar o código “Zara Zerou” para identificar pessoas que poderiam ocasionar “riscos” à loja. O “sinal”, emitido pelo sistema de alarme do estabelecimento, se relacionaria a pessoas negras e “mal vestidas”.
Trabalho escravo
Não é de hoje que a Zara, maior rede varejista de roupas do mundo, com sede na Espanha, está envolvida em escândalos e irregularidades. Além de crimes de racismo, de discriminação social, transfobia e suspeita de apologia ao nazismo, também já foi atuada pela prática de trabalho escravo por mais de uma vez.
Em 2011, a rede varejista que até janeiro deste ano atuava em 96 países, com 7,4mil unidades, foi alvo de uma ação do Ministério Público do Trabalho (MTE), que resgatou 15 trabalhadores imigrantes em três de suas oficinas de costura, atuando em condições de trabalho análogas à escravidão.
Assim, em 2014, a Zara foi obrigada a reconhecer a prática de trabalho escravo na produção de suas roupas; ainda neste ano, teve que retirar do mercado espanhol uma camiseta infantil com listras e uma estrela amarela bordada que se assemelhava aos uniformes usados pelos judeus nos campos de concentração nazistas.
Em 2015, o Centro de Democracia Popular (CDP – organização norte-americana que atua para transformar políticas locais e estaduais – entrevistou 251 funcionários da rede em Nova Iorque e concluiu que práticas de discriminação nas unidades nova-iorquinas se assemelham ao que ocorre no Brasil.
De acordo com os entrevistados, os clientes “suspeitos” seriam acompanhados por um funcionário no interior das lojas. Entre os entrevistados, 46% afirmaram que os consumidores negros eram os mais visados.
Mais recentemente, em 2019, duas jovens trans contratadas por meio de um programa de inclusão social para atuar em uma unidade da Zara em um shopping de São Paulo (Ibirapuera), por meio do Twitter acusaram a loja de não respeitar as suas identidades, enfrentando um ambiente de hostilidade, que durou por quatro meses.
Também nessa mesma unidade, em 2020, um rapaz negro foi abordado enquanto provava peças de roupas, sob suspeita de intencionar roubar peças. O caso foi parar na Justiça.