
Em greve desde segunda-feira, dia 17, os trabalhadores dos Correios vêm aderindo em massa ao movimento contra as medidas da direção da empresa, que acarretaram em perdas de direitos históricos e reafirmados no acordo coletivo realizado no ano passado.
Leia mais:
“Greve é por manutenção do acordo e contra corte de direitos”, afirma liderança dos Correios
Correios entram em greve contra redução de direitos conquistados em acordo
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares de São Paulo (Sintect-SP), na capital paulista, a adesão já é de 80%.
Em meio à greve, o presidente dos Correios, general Floriano Peixoto, argumenta que a estatal conta com um “prejuízo de 2,4 bilhões de reais”. “É um prejuízo que acumulamos ao longo do tempo por má governança da empresa”. Por decorrência desse suposto “déficit” nas contas, não teria a possibilidade de garantir os benefícios “extra-CLT”.
“Alguns benefícios estão sendo cortados porque a empresa não tem capacidade financeira nem condição de sustentar perante a sociedade a preservação deles em um momento tão difícil, de tantos sacrifícios”, disse o Floriano.
Nos últimos anos, os balanços apontam, no entanto, que a empresa tem acumulado lucros. De 1999 a 2018, os Correios, em dezesseis anos seguidos, tiveram um lucro de 15,8 bilhões de reais, em valores atualizados pelo IPCA. Contas no vermelho foram registradas apenas em 2013, 2015 e 2016, sendo que em 2014 teve resultado estável.
Desde 2017, a empresa voltou a apresentar balanço positivo, registrando lucro de R$ R$ 667 milhões em 2017, R$ 161 milhões em 2018 e R$ 102,1 milhões em 2019.
Corte de direitos
O discurso da empresa é de que os cortes se dão apenas a benefícios “extra-CLT”, o que para as entidades serve para tentar passar a imagem de que os trabalhadores da empresa gozam de algum tipo de privilégio que os demais trabalhadores do país não possuem.
O que a empresa está reduzindo dos trabalhadores são benefícios como tíquete-alimentação, adicional de férias, licença-maternidade, além da exclusão do transporte noturno e de indenizações por acidente ou morte.
No entanto, como afirma o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo, esses benefícios conquistados pelos trabalhadores compõe o chamado “salário indireto”, que foram compensações em momentos em que os trabalhadores não tiveram aumento salarial real ou que o reajuste foi abaixo da inflação, como no caso de 2019.
Enquanto a diretoria da empresa propõe retirar direitos dos trabalhadores, o lucro da estatal vem aumentando nos últimos anos com o aumento do comércio eletrônico (e-commerce), especialmente durante o período de pandemia. A estimativa é que o lucro advindo desta modalidade de comércio tenha crescido 25% durante esse período em que as lojas não puderam/podem atender em suas dependências físicas.
De acordo com pesquisa do Compre&Confie, o e-commerce brasileiro faturou R$ 9,4 bilhões em abril, aumento de 81% em relação ao mesmo período do ano passado. Maior parte desses produtos entregues através dos Correios.
A atual greve, diferente de outros momentos em que se buscava a melhoria das condições de trabalho para a categoria, é uma luta para que essas condições não sejam destruídas e acabe por colocar os trabalhadores em maior vulnerabilidade. Trabalhadores que têm cumprido com um papel essencial para a manutenção das atividades econômicas nesse momento em que a crise sanitária já ceifou 110 mil vidas, por negligência do governo federal.