Após ser agredido durante bloco Baixo Augusta, Marcelo Rubens Paiva reafirma luta pela memória e democracia

Marcelo Rubens Paiva é porta estandarte do Bloco Baixo Augusta desde a sua fundação. Na foto, ele está com a atriz Alessandra Negrini, rainha do bloco - Foto: Divulgação

O escritor Marcelo Rubens Paiva autor do livro “Ainda Estou Aqui”, que inspirou o filme indicado ao Oscar, se manifestou após sofrer uma tentativa de agressão durante o desfile do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, realizado no domingo (23) em São Paulo. Em resposta ao ocorrido, Marcelo publicou um trecho de uma canção de Roberto e Erasmo Carlos: “Eu cheguei de muito longe/ E a viagem foi tão longa / E na minha caminhada / Obstáculos na estrada / Mas enfim aqui estou”. Acompanhado por Alessandra Negrini, rainha do bloco, o escritor demonstrou resiliência diante do episódio.

O ataque aconteceu momentos antes da saída do bloco, quando um homem arremessou uma lata de cerveja e uma mochila em direção a Marcelo, que é cadeirante e tem 65 anos. O escritor é filho de Rubens Paiva, ex-deputado assassinado pela Ditadura Militar, história que ele retratou no livro que inspirou a produção cinematográfica. O incidente ocorreu justamente durante uma homenagem ao filme, que concorre em três categorias no Oscar: Melhor Filme, Melhor Atriz (Fernanda Torres) e Melhor Filme Internacional.

Apesar da tentativa de intimidação, Marcelo Rubens Paiva reafirmou sua presença e sua história, evidenciando que a cultura e a resistência seguem vivas.

A tentativa de agressão gerou forte indignação entre parlamentares e lideranças políticas, que se manifestaram em solidariedade ao escritor.

Orlando Silva, deputado federal pelo PCdoB-SP, também condenou o ataque: “É revoltante e covarde a agressão sofrida por @marcelorubens hoje no Bloco do Baixo Augusta. Nossa total solidariedade a ele. A extrema-direita, que se diz defensora da família, mais uma vez mostra sua verdadeira face: intolerante, violenta e disposta a atacar quem pensa diferente. Não podemos aceitar que o ódio tome o lugar do debate e do respeito.”

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ) repudiou a agressão e defendeu o Carnaval como espaço de liberdade e resistência: “O Carnaval é festa, liberdade e democracia — tudo o que a extrema-direita despreza. A agressão covarde sofrida por Marcelo Rubens Paiva em um bloco que celebrava sua história escancara o ódio daqueles que não toleram a alegria e a diversidade. Mas não vão nos calar: seguimos ocupando as ruas com respeito, música e resistência. No Carnaval, a violência não tem espaço — aqui, só há lugar para o povo e sua celebração irrestrita da vida.”

Nomes como Guilherme Boulos (PSOL), Paulo Pimenta (PT), Lindbergh Farias (PT/RJ), Ivan Valente (PSOL/SP), Dandara Tonantzin (PT/MG), André Janones (Avante/MG), Laura Sito (PT/RS) e Jorge Messias, Ministro-Chefe da Advocacia-Geral da União, também prestaram apoio público a Marcelo Rubens Paiva.

Guilherme Boulos (PSOL) apontou o ataque como reflexo do “discurso de ódio propagado pela extrema-direita”, enquanto o deputado Ivan Valente (PSOL) destacou a relevância do filme, que aborda “o assassinato de seu pai, Rubens Paiva, pela ditadura militar e a resistência de sua mãe, Eunice”.

Agressor de Marcelo Rubens Paiva foi fotografado por integrantes do bloco, mas não foi detido pelos policiais – Foto: Reprodução

Outros políticos também se posicionaram. André Janones (Avante) e Laura Sito (PT) associaram o episódio ao extremismo bolsonarista, com Janones enfatizando: “Precisamos acabar com esse extremismo e com esses adoradores de ditadura (pelas vias legais) urgentemente”. Já Paulo Pimenta (PT) classificou o incidente como um “ato covarde” contra um “símbolo da cultura, da memória e da resistência democrática”.

Daiane Araújo, vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE) e participante da manifestação, declarou: “Estamos aqui hoje, como estivemos em 2012, para denunciar não apenas os crimes cometidos durante a ditadura militar, mas também a impunidade de torturadores e assassinos. Reivindicar o passado é essencial para que a história não seja esquecida nem se repita. Seguimos exigindo justiça por Rubens Paiva, em nome de todos os familiares e vítimas dos crimes da ditadura, para que a Lei da Anistia não se aplique a crimes contra a humanidade, como tortura, assassinato e desaparecimento. Além disso, defendemos que aqueles que atentam contra a democracia e que cometeram tais crimes devem ser expulsos das forças armadas do Brasil e desligados da administração pública”.

Na manhã desta segunda-feira (24), aproximadamente 100 jovens se reuniram em frente à residência de José Antônio Nogueira Belham, ex-general reformado do Exército e antigo comandante do DOI-CODI durante a ditadura militar, acusado de envolvimento na tortura, desaparecimento e morte do ex-deputado Rubens Paiva. O protesto, organizado pelo Levante Popular da Juventude, teve início por volta das 7h e buscou denunciar os crimes cometidos no período ditatorial, além de exigir justiça para Rubens Paiva.

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Uma resposta

  1. Enquanto esses praticantes da direita violenta não tiverem a devida resposta, eles continuarão com atos de ódio. No momenmo em que um deles receber uma pedrada na testa, vão pensar duas vezes antes de fazer besteira consciente.

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