Elon Musk, o bilionário norte-americano, parece incorrigível em suas manobras para driblar decisões judiciais de países soberanos como o Brasil.
Apenas 2 meses depois de voltar a operar no Brasil, após o cumprimento das exigências do Supremo Tribunal Federal (STF), a rede X, de sua propriedade, não conseguiu – ou não quis – se livrar da marca que parece ser o seu DNA, a desinformação, ou seja, a propagação de mentiras.
A plataforma continua dando guarida a fake News, exatamente o motivo que fez com que a justiça brasileira suspendesse a sua operação no País e impusesse rigorosa multa.
Nesta semana, a Advocacia-Geral da União (AGU) solicitou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) uma investigação sobre declarações atribuídas ao novo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Motivo da solicitação: postagens que teriam influenciado na variação (para cima) do preço do dólar, o que caracterizaria flagrante ação especulativa. Além disso, também na semana passada, circulou pelo X imagem falsa, produzida por inteligência artificial, do presidente Lula com a cabeça enfaixada, e um pedido de emissão de certidão de óbito com o logotipo do hospital Sírio-Libanês, no qual o chefe do Executivo foi internado para submeter a uma cirurgia na cabeça.
Sobre a fake News, a plataforma do bilionário não se manifestou. A nova onda de desinformação registrou outro episódio envolvendo o youtuber Felipe Neto que anunciara, dias antes, um processo contra o senador Cleitinho (Republicanos-MG) e o deputado Gustavo Gayer (PL-GO). Os parlamentares publicaram uma suposta captura de tela do youtuber que teria sido forjada, com comparação entre preços nos governos Lula e Bolsonaro. Procurados, os parlamentares, como Musk, não se manifestaram.
A rede do norte-americano também está recheada de perfis bolsonaristas com a divulgação distorcida do projeto de lei que regulamenta a inteligência artificial no Brasil, recentemente aprovado pelo Senado Federal.
Tais perfis apontam que o projeto ameaça com censura às redes sociais. São os mesmos que, em outras publicações, atribuem de forma descabida e mentirosa ao governo federal decisões de aumentar o ICMS para as compras internacionais, quando as iniciativas tem sido tomadas pelos secretários da Fazendo dos estados.
O fato é que o X, depois do retorno de sua opereação no Brasil, voltou a ser a plataforma preferida dos bolsonaristas especialistas na falsificação da realidade.
Estudo recente da FGV Comunicação Rio aponta que, entre 30 de julho e 30 de agosto, antes da suspensão, a média de publicações sobre temas políticos no Brasil era de 616 mil mensagens por dia.
No primeiro mês após a volta, o total foi de 482 mil. Levando em consideração o período de 8 de outubro até 11 de dezembro, a média sobe para 593 mil.Os números do levantamento atribuem essa retomada a publicações sobre a Operação Contragolpe, que investigou uma trama para matar autoridades, a realização no G20 no Brasil e o pacote fiscal no governo. Os temas mobilizaram tanto apoiadores quanto opositores do governo federal.
Marco Aurelio Ruediger, diretor da FGV Comunicação, aponta uma identificação maior da direita, principalmente devido ao fato de Elon Musk ser um apoiador do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e ter relações com a família Bolsonaro. Aliás, um dos episódios que marcou a trágica gestão do ex-presidente foi uma visita feita pelo bilionário ao Brasil, quando, em tom ostensivamente bajulatório, Bolsonaro tentou, sem sucesso, entregar a ele o controle da internet na Amazônia brasileira. Ministros fugiram do XO comportamento da rede, que provocou a suspensão e a multa, fez também com que os ministros do STF passarem a evitar, com raras exceções, postagens no X.
Alexandre de Moraes, relator do episodio que resultou no bloqueio, já não usa a plataforma desde janeiro. Flávio Dino abandonou de vez as postagens, agora endereçadas à rival Threads.
Já Luís Roberto Barroso, que já foi um usuário frequente, só fez duas postagens desde o retorno. André Mendonça também não faz publicações desde agosto, mas suas postagens sempre foram esporádicas. O único ministro que segue publicando com frequência é Gilmar Mendes.
Marco Aurelio Ruediger considera que para políticos a decisão de abrir mão do espaço de discussões é mais difícil:— Para o Judiciário, é uma coisa mais complicada (continuar), porque houve enfrentamento direto com a plataforma. Em termos políticos, se vê de outra forma. Se você se exime do espaço, você perde.