“Lamento que uma investigação arquivada em 2018, tenha sido retomada e a ela dado seguimento pela atual gestão da PGR, logo após a minha saída do Governo do Presidente Jair Bolsonaro”, disse o ex-ministro
A Procuradoria-Geral da República (PGR), comandada por Augusto Aras, retomou negociações para um acordo de colaboração premiada com o advogado Rodrigo Tacla Duran, operador de propina da Odebrecht que está foragido na Espanha. A decisão agradou Jair Bolsonaro que foi denunciado por Moro de intromissão indevida na Polícia Federal.
Duran havia denunciado na época da Lava Jato que o advogado Carlos Zucolotto, padrinho de casamento de Sérgio Moro, teria extorquido dele US$ 5 milhões para obter vantagens em seu acordo de colaboração premiada com a Lava Jato em 2016, como a diminuição do valor de sua multa, acordada inicialmente em R$ 55 milhões, o que não aconteceu.
As denúncias de Duran foram investigadas pela PGR e o inquérito arquivado em 2018, por falta de provas.
O ex-ministro Moro estranhou a reabertura da tentativa de acordo logo após sua saída do governo Bolsonaro. “Os relatos de Rodrigo Tacla Duran sobre a suposta extorsão que teria sofrido na Operação Lava Jato, com envolvimento de um amigo pessoal, Carlos Zucolotto Júnior, já foram investigados na Procuradoria-Geral da República e foram arquivados em 27/09/2018, com parecer do então Vice-Procurador-Geral da República”, escreveu.
Ele se disse perplexo e indignado que “tal investigação, baseada em relato inverídico de suposto lavador profissional de dinheiro, e que já havia sido arquivada em 2018, tenha sido retomada e a ela dado seguimento pela atual gestão da Procuradoria-Geral da República logo após a minha saída, em 22/04/2020, do Governo do Presidente Jair Bolsonaro”, continuou.
“Lamento, outrossim, que mais uma vez o nome de um amigo seja utilizado indevidamente para atacar a mim e o trabalho feito na Operação Lava Jato, uma das maiores ações anticorrupção já realizadas no Brasil”, completou.
“Isso é história requentada. Isso saiu em 2017, é uma história totalmente estapafúrdia. Essa pessoa é um lavador profissional de dinheiro que está foragido do país para escapar do processo”, afirmou Moro na época de seu depoimento no Senado para esclarecer as mensagens vazadas pelo site The Intercept Brasil.
Tacla Duran foi investigado pela Lava Jato, sendo acusado de ter feito a lavagem de pelo menos US$ 95 milhões para a Odebrecht. O advogado chegou a ser preso por 70 dias na Espanha, mas foi posto em liberdade pelas autoridades espanholas. Atualmente, ele vive no país europeu.
Aras, que pediu o fim do inquérito que investiga ataques digitais da milícia bolsonarista a personalidades políticas e membros do Judiciário, deixou de fora da negociação a força-tarefa da Lava Jato de Curitiba, responsável por investigar os crimes de Tacla Duran e que conhece todo o histórico envolvendo sua primeira tentativa, frustrada, de acordo. As conversas, porém, avançaram mais recentemente e, no início de maio, foi assinado um termo de confidencialidade para formalizar a fase preliminar das tratativas de acordo.
Augusto Aras foi indicado por Bolsonaro ao cargo de PGR mesmo sem estar na lista tríplice do Ministério Público. Ele foi apontado pelo presidente como um homem forte para o STF e foi indicado também pelo presidente para receber uma medalha da Marinha Brasileira.
Aras afirmou na terça-feira (2), em entrevista a Pedro Bial, da Rede Globo, que Bolsonaro não comete nenhuma ilegalidade ao estimular aglomerações e participar delas sem máscara, norma que é obrigatória para todos os moradores do Distrito Federal.
A força-tarefa da Operação Lava Jato afirmou, em nota, divulgada na quarta-feira (03), que o advogado foragido Rodrigo Tacla Duran tentou “induzir em erro autoridades no Brasil e no exterior para alcançar impunidade” e alertou não ter conhecimento se a Procuradoria-Geral da República (PGR) possui informações necessárias para a negociação do acordo de colaboração, como detalhes sobre o patrimônio oculto de Tacla Duran e das investigações contra ele.
O advogado Carlos Zucolotto afirmou que nunca esteve com Tacla Duran e nunca negociou nenhum dinheiro com o operador foragido da Odebrecht.
“Há diferentes linhas de investigação em curso relacionadas a Rodrigo Tacla Duran, algumas das quais já conduziram a quatro ações penais a que responde no Brasil, por lavagem de dinheiro de centenas de milhões de reais, amparadas em provas como extratos de contas no Brasil e no exterior, e-mails e declarações de executivos de diferentes empreiteiras”, diz a nota.
A nota aponta que as acusações feitas por Tacla Duran em relação a Zucolotto, que incluiriam a promessa de pretensos benefícios a serem obtidos perante a força-tarefa, são “falsas e fantasiosas” e já foram investigadas e arquivadas pela PGR.
“Além disso, Rodrigo Tacla Duran comprovadamente inventou histórias para atacar a credibilidade das autoridades, narrando falsamente, por exemplo, que os procuradores brasileiros teriam se recusado a colher seu depoimento na Espanha, quando foi ele quem informou expressamente às autoridades espanholas que exerceria seu direito ao silêncio, razão pela qual os procuradores não se deslocaram para a Espanha”, diz a nota dos procuradores.