Central Operária Boliviana (COB) se junta ao movimento Pacto de Unidade para defender manutenção da prisão do golpista Fernando Camacho, governador afastado de Santa Cruz
A Central Operária Boliviana (COB) se uniu ao movimento Pacto de Unidade para se dirigirem em carta pública ao golpista Fernando Camacho, governador afastado de Santa Cruz, detido recentemente por ter participação nas chacinas de 2019, repudiando sua postura ditatorial e terrorista, em contraposição frontal com a do presidente Luis Arce.
Acusado de crime de terrorismo, Camacho foi algemado e levado para La Paz em 28 de dezembro, incitando uma onda de violência orquestrada pela sua base, em especial a União da Juventude Cruzenhista. Houve incêndios e saques contra instituições públicas e privadas da capital do departamento, incluindo o prédio do Comando de Polícia. Atualmente, Camacho encontra-se na prisão de segurança máxima de Chonchocoro, podendo ser condenado a até 30 anos de cárcere.
“Sua clara vocação antidemocrática, violenta e racista mostra que sua condição política não é comparável à autoridade moral do presidente de todos os bolivianos, porque enquanto ele constrói, você destrói; enquanto ele une, você divide e semeia ódio entre irmãos”, afirmam as mais representativas entidades de trabalhadores do campo e da cidade, mulheres, povos indígenas, mineradores e comerciantes cooperativos, em resposta à provocação de Camacho, que pretensamente solicitou um “debate” com Arce.
“Em seu conhecido estilo de enviar cartas, como fez ao irmão Evo Morales antes do golpe de 2019, agora se dirige ao nosso irmão presidente, Luis Arce Catacora, eleito com o apoio de 55% dos bolivianos nas eleições de 18 de outubro de 2020, em que obteve apenas 14% de apoio. Espero que esta sua carta não seja o prelúdio de outro golpe que você estaria tentando criar, como vem tentando desde que o povo boliviano recuperou a democracia e nosso governo”, advertem.
Conforme os movimentos sociais, desta vez o povo não será surpreendido pois está mobilizado, organizado e unido, em alerta para defender a democracia recuperada, tanto nas ruas quanto nas urnas, uma conquista que custou tanto luto, sangue e dor ao povo boliviano.
De forma enfática, recordam os milhares de mártires que entregaram sua vida lutando contra um sistema colonial de pilhagem dos recursos naturais em favor das transnacionais, com racismo e exclusão neoliberal, “o mesmo que tu, Camacho, pretendes restaurar com um modelo econômico faminto”.
O documento lembrou das expressões fascistas e racistas usadas para estabelecer governos ditatoriais, como o do ditador García Meza, que falou de uma “democracia sem precedentes” e estabeleceu um regime de morte muito semelhante ao imposto no golpe de 2019. Naquele ano, a tomada de assalto ao poder por um bando de criminosos, esclareceram, foi o responsável pelos massacres de Sacaba, Senkata, Pedregal e Betanzos, com mais de 30 mortos, centenas de feridos, milhares de detidos, perseguidos e torturados. Um regime de terror que impulsionou a multiplicação de uma infinidade de busca de asilos e exilados.
“Você está preso por crimes pelos quais deve responder sem nenhum tipo de privilégio, porque pessoas como você tendem a acreditar que estão fora da lei, tendem a acreditar que podem comprar justiça e continuar agindo impunemente. Não é perseguição política, é justiça! Não é vingança, é justiça!”, avaliam as entidades.
Para os movimentos sociais, Camacho tem que assumir perante os tribunais a responsabilidade pelo golpe, pelos massacres e pelos milhares de inocentes cujos direitos foram cruelmente atropelados, assinalando que jamais permitirão planos separatistas ou um novo golpe.
“PLANO DE CAMACHO É DIVIDIR A PÁTRIA BOLIVIANA”
Segundo frisam as entidades, em consonância com o defendido pelo governo Arce, a gestão de Camacho não é do interesse de Santa Cruz, pois afronta necessidades básicas da população local para fins pessoais ou para organizar grupos paramilitares arregimentados pela União da Juventude Cruzenhista, que voltou a espalhar o pânico pela cidade. “É um plano para dividir e destruir a nossa Pátria, é um projeto para quebrar a integridade territorial de nosso Estado Plurinacional”, alertam.
“Vocês representam os interesses de um grupo minoritário da oligarquia que, para defender seus interesses, está disposta a dividir nosso país, a conduzi-lo novamente a uma crise política, econômica e social, e por isso arranjou suas hordas paramilitares para semear o terror, mas o mais sério, está disposto a nos levar a uma guerra civil para nos confrontar entre os bolivianos”, destacam.
Diante disso, acrescentam as entidades, “esperamos que sua estada em Chonchocoro seja o tempo que a Justiça determine de acordo com a sua responsabilidade histórica pela participação decisiva no golpe de Estado de novembro de 2019 e pelos massacres perpetrados, deixando muitas famílias sem entes queridos em suas casas”.
REUNIÃO COM O PRESIDENTE
Reunidos com Arce durante cinco horas nesta sexta-feira (6) na Casa Grande do Povo [Palácio Presidencial], os movimentos sociais concordaram que o momento é de fortalecer ainda mais a unidade para, juntos, virar de vez a página do obscurantismo, que resiste na capital oriental.
Há alguns anos, elementos de Santa Cruz, com símbolos nazistas, tentaram criar – com assessoria direta dos Estados Unidos – a região da Meia Lua, envolvendo na aventura separatista os departamentos de Beni, Pando e Tarija. O repúdio popular falou mais alto e fracassaram.
Após analisar a violência desencadeada por grupos de extrema-direita na capital oriental, as entidades também reiteraram que estão vigilantes e em mobilização permanente nos nove departamentos, a fim de que 2023 seja um ano de união, transparência e harmonia entre todos os bolivianos.
“Quero agradecer a maturidade ideológica e política de todos os dirigentes que reiteradamente se referiram, e que partilhamos plenamente, que só existe um Processo de Mudança e por isso todas as organizações sociais e o governo nacional estão em franca unidade neste momento que o país atravessa”, enfatizou Arce.
Com esse mesmo compromisso, o presidente conclamou os movimentos sociais para que participem da grande concentração e mobilização do dia 22 de janeiro, em comemoração a mais um ano do Estado Plurinacional da Bolívia. “Este evento é muito importante para todos nós e por isso convocamos todos os bolivianos, todos aqueles que se sentem comprometidos com a sua pátria, com o seu país, a participar desta importantíssima ocasião”, sublinhou.