O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou a estatização da empresa agora falimentar Vicentin, produtora de cereais, que já foi líder do setor agroexportador do país
“É uma decisão estratégica para a economia nacional”, afirmou, enfatizando que o faz uma vez que ela “ia a caminho da falência”.
“Trata-se de um setor da economia que tem particular relevância, como é o mercado de grãos e cereais”, sublinhou.
Fernández informou, na segunda-feira, 8, que a administração pública assumiria o controle de 51% da empresa que hoje ocupa o sexto lugar no sector agroexportador, e já se encontra em concordata em consequência de um processo por dívida fraudulenta de 350 milhões de dólares com o estatal Banco de La Nación. A dívida em questão integra um endividamento total de que soma 1 bilhão 350 milhões de dólares.
A agroexportadora não chegou a essa situação sozinha. Depois de se beneficiar de um empréstimo milionário concedido durante o governo de Maurício Macri pelo principal banco estatal do país, não só não o reembolsou como ainda conseguiu outras grandes somas de dinheiro, enquanto se preparava para declarar falência. Muitos desses empréstimos foram outorgados pelo Banco à empresa que foi a principal financiadora da campanha de Macri logo depois de sua derrota eleitoral, acontecida em 27 de outubro de 2019. Seu mandato venceu em 10 de dezembro.
O balanço do Banco Nación revela que a instituição presidida na época por González Fraga, indicado por Macri, concedeu à Vicentin, entre os dias 8 e 26 de novembro, 26 autorizações de crédito para pré-financiamento de exportações de 95,5 milhões de dólares, segundo o jornal Página 12. Uma semana depois da última retirada, a empresa declarou falência.
“Estou anunciando aqui, neste momento, que estamos enviando ao Congresso uma lei de desapropriação do grupo Vicentin, para que o Estado nacional assuma o controle. Todos os ativos do grupo Vicentin farão parte de um fundo fiduciário e o confiaremos à administração da YPF AGRO”, disse o presidente em coletiva de imprensa.
Ressaltou que o plano é resgatar a empresa, proteger os empregos e garantir «que os pequenos produtores possam contar com uma empresa para vender-lhe o que eles produzem».
«Os argentinos devem estar muito felizes porque estamos dando um passo para a soberania alimentar”, disse Fernández ao referir-se a um mundo pós-pandemia que colocará os alimentos no centro da discussão. Assinalou que a decisão busca “aproveitar a capacidade de administração da YPF [Jazidas Petrolíferas Fiscais]”. A YPF AGRO pertence à estatal de petróleo que também produz e comercializa sementes, defensivos agrícolas e fertilizantes, além insumos para silos e lubrificantes.
Equivalente à nossa Petrobrás, a YPF tinha sido privatizada nos anos 90 durante o governo de Carlos Menem e entregue ao grupo espanhol Repsol. Hoje é novamente nacional fruto de uma de outra nacionalização, esta realizada em 2012, durante o governo de Cristina Kirchner.
Durante a coletiva de imprensa, o ministro de Desenvolvimento Produtivo, Matías Kulfas, assegurou que o resgate da empresa de cereais Vicentín permitirá sustentar seu “papel central no mercado agroindustrial”.