Mais de 400.000 encheram as ruas do centro de Buenos Aires rechaçando a política econômica do governo, na quarta-feira, no maior protesto desde que assumiu o presidente Maurício Macri, em dezembro de 2015.
O movimento sindical argentino unificado, as entidades sociais de moradores, femininas e estudantis, as Mães da Praça de Maio, os principais partidos de oposição expressaram a revolta da população ao transformarem um ato inicialmente convocado pelo líder sindical dos caminhoneiros, Hugo Moyano, numa avalanche humana contra a política neoliberal que afoga o país.
Os representantes da Confederação Geral do Trabalho, CGT, da Central de Trabalhadores da Argentina – Autônoma, a Corrente Federal dos Trabalhadores, a Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular (CTEP), a CTA dos Trabalhadores, apontaram em seus discursos o teto que rebaixa os acordos coletivos, conforme imposto pelos patrões, o ataque à Previdência, também lá chamada de “reforma” e as demissões em massa de servidores públicos.
“Não podem ficar mais na condução do país porque querem tirar a dignidade dos homens de trabalho e não podemos permitir isso. Nós trabalhadores, devemos nos preparar para quando chegar o momento de expressar a vontade democrática”, disse Hugo Moyano no ato realizado na Avenida 9 de Julho, inteiramente tomada pela multidão.
“Essa política não só leva a fome à parte mais sensível de nossa sociedade no presente, mas também a condena no futuro. Nem eles têm confiança nos modelos que aplicam, porque senão trariam a grana para cá”, acrescentou, referindo-se à demissão forçada do subsecretário geral da Presidência, Valentín Díaz Gilligan, denunciado como proprietário de uma offshore em Andorra, e do ministro de Finanças de Macri, Luis Caputo, também dono de contas no exterior.
No setor onde se concentravam os caminhoneiros, milhares de pessoas puxaram o canto que ficou popular nos jogos de futebol, nos estádios dos times de San Lorenzo e River nas últimas semanas: “Mauricio Macri, vá pra pqp!”.
“Este dia vai ficar na história como o Dia da Unidade dos Trabalhadores, como o dia da Dignidade dos que não se ajoelham frente a prepotência de um governo de patrões”, disse Hugo Yasky, secretário-geral da CTA dos Trabalhadores. “Temos que voltar a ter uma Argentina onde o orgulho do operário seja pôr o prato de comida na casa; seja que seu filho vá à escola a estudar, não à escola para comer e isso se consegue com negociações salariais livres, com aumentos que cubram a inflação, e sobretudo com as leis trabalhistas que temos que defender, porque essa lei que o governo junto com os patrões querem reformar é a lei que nos legaram Perón e Evita”, frisou.
Yasky concluiu dizendo, muito aplaudido, que “se querem buscar ladrões lhes passamos um endereço: Balcarce 50, onde há uma Casa Rosada”.
As reformas trabalhistas que Macri pretende são similares às medidas de arrocho preparadas pelo governo Temer. Modificar e ‘flexibilizar’ as leis trabalhistas implantando formas de contratação sem regulamentação, como trabalhos temporários ou por produção, sem registro em carteira; modificar a Previdência Social, diminuindo as aposentadorias e aumentando a idade para receber o benefício; limitação da possibilidade dos trabalhadores abrirem processos por denúncia de acidentes de trabalho e outros abusos.
“Estamos prontos para enfrentar o ajuste brutal que Macri está impondo aos trabalhadores e aos aposentados. Esta é uma situação muito crítica, é hora de união”, disse Pablo Micheli, da CTA Autônoma. “Se não houver respostas governamentais, provavelmente convocaremos uma greve nacional em março”, disse Micheli à Reuters.
Juan Carlos Schmid, outro membro da direção da CGT assinalou: “Acordamos repudiar energicamente o corte das aposentadorias e exigir o respeito à Previdência, exigir negociações livres e sem tetos que as limitem, rechaçar em todos os termos o projeto de reforma trabalhista que o Executivo enviou ao Parlamento nacional”.
Reforçando o caráter de união de todos os setores da oposição contra essa política, a titular da Associação de Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, reiterou sua adesão: “Estamos na briga corpo a corpo com o governo, que nos agride”, sublinhou. Afirmou que a mobilização transcende o movimento operário organizado porque “a marcha é de todo o povo”.
Participaram ainda o Movimento Evita, La Cámpora e outros setores do peronismo como o encabeçado pelo prefeito da cidade de Merlo, Gustavo Menéndez. “O peronismo sempre estará do lado dos trabalhadores, aposentados, veteranos das Malvinas e dos mais humildes”, disse o presidente do Partido Justicialista nacional, José Luis Gioja. Os deputados da Frente para a Vitória, liderados por Agustín Rossi, se incorporaram ao ato.