No sábado, 42º aniversário do golpe militar de 24 de março de 1976 que assolou o país, centenas de milhares de argentinos de organizações políticas, sindicais, estudantis, sociais e famílias, encheram as ruas de Buenos Aires, se concentrado na Praça de Maio, para advertir ao governo do presidente Mauricio Macri de que o povo e os organismos de direitos humanos que o representam não permitirão suas políticas de ajuste, e “nenhum retrocesso nas políticas de memória, verdade e justiça” para condenar os responsáveis militares e civis dos crimes de lesa humanidade, em homenagem aos 30.000 desaparecidos e vítimas da última ditadura militar (1976-1983).
O documento que leram no ato as respeitadas organizações Avós e Mães da Praça de Maio, assinado também por dirigentes de agrupações como HIJOS e a Liga pelos Direitos do Homem, não só defendeu a necessidade de manter a memória, a verdade e a justiça, mas condenou o governo pela grave crise social, o desemprego, o aumento da pobreza a fome, a violência institucional e as diversas violações às leis e à Constituição.
Taty Almeida, do grupo Mães da Praça de Maio, destacou que a marcha mostrou a rejeição do povo “ao ajuste, repressão, impunidade e por uma democracia sem presos políticos como Milagro Sala [presa desde janeiro de 2016 por se opor à política de Macri]”. A multidão saudou com aplausos a presença na manifestação de Carlos Zannini e de Luis D’Elía, dois líderes sociais presos e liberados poucas horas antes por decisão da Justiça. Zannini, acompanhado pelo deputado Máximo Kirchner, foi aclamado quando subiu à tribuna.
Foi ressaltado no documento que nos últimos anos “temos sido testemunhas do atropelo sistemático dos direitos mais básicos das pessoas, a fragmentação dos poderes institucionais, a criminalização e repressão do protesto social, a utilização de setores das forças de segurança para perseguir e amedrontar os trabalhadores, militantes, dirigentes e qualquer um que se contraponha às medidas regressivas que o presidente Macri e a governadora (María Eugenia) Vidal lançam para impor o plano neoliberal de fome, violência e miséria”.
Descreveu uma “realidade dramática” na qual “a educação pública e seus trabalhadores não são mais que um ‘alvo legítimo’ da mal chamada ‘modernização’, a saúde pública só é um custo que deve ser paulatinamente eliminado e os entes fundamentais para o desenvolvimento do país como a Administração Nacional de Seguridade Social, Anses, o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas, Conicet, o Instituto Nacional de Tecnologia Industrial, INTI, o Instituto Nacional de Tecnologia Agrícola, INTA, e outros similares se encontram sem recursos, com parte do pessoal mandado embora ou em vias disso”.
Os únicos beneficiados são “as grandes concentrações econômicas, as multinacionais que recebem dia após dia a brutal transferência do esforço de todo o povo argentino”. Sobre a política de direitos humanos, se afirmou que este governo “se burla de maneira macabra e não se conforma com tentar gerar uma anistia encoberta, mais ainda pressiona o Poder Judiciário para enviar os genocidas a suas casas”.
“O caminho é a unidade e a luta coletiva, sem ódio nem vingança, mas implacável na busca dos direitos de todos, na garantia de Memória, Verdade e Justiça”, encerrou, sob intenso aplauso, Estela de Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio.