Centenas de milhares de pessoas se manifestaram na quinta-feira, 26, nas principais cidades da Argentina, para repudiar o decreto de Macri, do chefe de gabinete Marcos Peña e do ministro de Defesa, Oscar Aguad, que pretende habilitar a militarização da segurança interna do pais. O ato central, organizado em Buenos Aires pelos organismos de direitos humanos, ocorreu frente ao edifício Libertad, sede do Ministério de Defesa. Mais de uma centena de organizações sociais, sindicais e políticas encheram a Avenida Paseo Colón, uma das principais da capital, e todas as ruas próximas.
“Se o governo quer aplicar uma nova política de Defesa (…), que coloca o centro na repressão ao povo e não na Defesa da soberania do país, claramente deveria enviar um projeto e discuti-lo no Congresso, além de ouvir a população”, afirmou o deputado nacional da Frente Renovadora, Daniel Arroyo, em coletiva de imprensa em Buenos Aires.
Desta forma, “está alterando um princípio básico da democracia, construído ao longo de muitos anos por todos os partidos políticos, uma das poucas políticas de Estado que existem na Argentina. Isso é anticonstitucional”, assinalou o deputado.
A ex-ministra de Defesa (2005-2010) Nilda Garré, atualmente deputada da Frente para a Vitória, observou que entregar ao Exército, à Força Aérea e à Armada uma tarefa que extrapola suas responsabilidades como é o combate ao crime organizado, para a qual não tem “nem treinamento, nem equipamento”, é “muito perigoso”.
Catorze meses atrás foi barrada, com enormes manifestações nas ruas do país, a tentativa de libertar criminosos condenados por delitos de lesa-humanidade. Agora, mais uma vez, uma multidão tomou as ruas do país para barrar uma nova decisão macrista, improvisada e unilateral, numa questão especialmente sensível para milhões de argentinos que não esquecem o genocídio provocado pela última intervenção na segurança interna de militares a serviço de forças anti-nacionais.
“Mobilizamos-nos em todo o país para dizer ‘Forças Armadas repressivas, Nunca Más. Não à militarização da Argentina’”, disse Lita Boitano, lendo um documento que subscreveram as Avós de Praça de Maio, Mães Línea Fundadora, Familiares de Detidos e Desaparecidos por Razões Políticas, entre outras entidades.
“Este governo implementa a miséria planificada, organiza demissões massivas, o esvaziamento das políticas sociais, a perseguição aos povos originários e aos militantes populares, enquanto aumenta a impunidade para os ladrões, para os genocidas, com violência institucional, repressão do protesto social e censura a imprensa”, denunciou Lita. O decreto “reforça o modelo repressivo de um governo que representa os interesses de poucos enquanto empobrece as maiorias”. “Este plano de ajuste só pode impor-se com repressão”, marcou. “O governo está reeditando a teoria do inimigo interno para tentar calar os protestos do povo e conter as crescentes mobilizações” de repúdio “às políticas antipopulares do macrismo, baseadas em exigências impostas pelo FMI”, concluiu, com milhares de pessoas cantando repetidas vezes “Pátria sim, colônia não”.
Leonardo Fossati, neto recuperado pelo trabalho das Avós da Praça de Maio, destacou que “as experiências regionais” de militarização nunca foram “favoráveis para o povo” e advertiu que o decreto “se inscreve em uma longa série de ações de cessão de soberania em beneficio dos poderes imperiais”. “Enquanto nada se diz sobre a base da OTAN nas Ilhas Malvinas, não podemos desvincular a reorganização proposta com os planes dos Estados Unidos que não são somente na mídia mas também militares”, ressaltou.
SUSANA LISCHINSKY