
“O reajuste caiu pesado sobre os trabalhadores e aposentados, enquanto o setor financeiro multiplicou obscenamente seus lucros”, denunciou a Confederação Geral do Trabalho (CGT), que convocou a greve
A Confederação Geral do Trabalho da Argentina (CGT) liderou nesta quinta-feira (10) a terceira greve geral contra a política de arrocho, desemprego e desmonte do Estado e da produção aplicada pelo presidente Javier Milei.
“Avisamos, e a realidade confirmou: o reajuste caiu pesado sobre os trabalhadores e aposentados, enquanto o setor financeiro multiplicou obscenamente seus lucros”, condenou o comunicado da CGT, assinado por Héctor Daer, Carlos Acuña e Oscar Argüello, sustentando a relevância da paralisação de 24 horas e da mobilização de 36 horas.
“Exigimos livre negociação coletiva, a aprovação de todos os Acordos Coletivos de Trabalho, um aumento emergencial para todos os benefícios de aposentadoria e pensão, uma atualização do bônus e o fim da repressão brutal aos protestos sociais”, apontaram as lideranças, que inundaram as ruas de Buenos Aires e de todo o país com cartazes anunciando as razões do movimento.
“GREVE É SIGNIFICATIVA”
Com base nos informes recebidos de todo o país, o secretário-adjunto da CGT, Andrés Rodríguez, assegurou: “a greve é significativa”, com inúmeras confederações, federações e sindicatos informando de “um absenteísmo muito alto” nos locais de trabalho. De forma clara, acrescentou Daer, “dizemos ao governo que não pode haver preços livres com acordos coletivos fixos. Não pode haver acordos que não sejam aprovados”.
O secretário-geral do Sindicato Ferroviário do Oeste, Rubén Pollo Sobrero, ressaltou a “contundência” do movimento e explicou que a convocatória foi “plenamente acatada” nos trens, com a administração enfrentando “vários problemas”.
O secretário-geral da Associação de Pilotos de Linha Aérea (APLA), Pablo Biró, explicou estar “completamente de acordo” com a greve e antecipou que na próxima semana haverá uma nova paralisação de 12 horas do setor da aviação. “Há 100% de adesão dos pilotos no Aeroparque, e não haverá atividade em Ezeiza durante todo o dia”, disse.
Com apoio das duas Central de Trabalhadores de Argentina (CTA), uma multidão voltou a tomar as imediações do Congresso em apoio ao protesto que as entidades de aposentados realizam todas as quartas-feiras, ao lado de organizações políticas, sociais e de direitos humanos contra as políticas de “austeridade e destruição da economia” aplicadas pelo “serviçal do Fundo Monetário Internacional”.
O secretário-geral da CTA-T, Hugo Godoy, destacou a multitudinária mobilização “em rejeição ao brutal ajuste econômico, às demissões em massa e ao avanço repressivo do governo de Javier Milei e seu ministro da Economia, Luis Caputo”.
Entre as principais reivindicações do movimento sindical argentino está o fim das demissões no setor público e privado, com a defesa dos postos de trabalho; negociação coletiva livre e padronizada; fim do desmantelamento do Estado e as privatizações do Banco Nação e Aerolíneas Argentinas, com o fortalecimento das empresas estratégicas; a prorrogação da moratória da pensão e aumento emergencial para os aposentados, com a restauração urgente das suas rendas; pôr fim à política de governar por decreto, adotada por Milei; salário universal para terminar com a fome, que tem feito com que um milhão de crianças argentinas vão dormir com fome; proteção à indústria nacional, colocando um ponto final a importações que destroem o emprego; e não ao endividamento com o FMI que hipoteca o futuro da Pátria, garantindo maior equilíbrio e justiça social.
“A UNIDADE DAS TRÊS CENTRAIS MULTIPLICA NOSSA FORÇA”
O secretário-geral da CTA-T e deputado nacional pelo partido União pela Pátria, Hugo Yasky, assinalou que participava do ato “com a convicção de que esta praça repleta de trabalhadores, aposentados e movimentos sociais demonstra que estamos no caminho certo”. “A unidade das três centrais quando nos manifestamos multiplica nossa força”, frisou.
As CTAs defenderam “a relevância de unir as demandas daqueles cujos salários atualmente não dão para cobrir as despesas; daqueles que perderam seus empregos; daqueles que foram demitidos e estão prestes a perdê-los; daqueles que exigem financiamento para a educação; daqueles que querem suas moradias concluídas porque as obras públicas suspensas as deixaram pela metade; daqueles que exigem a universidade e as escolas públicas, que são a escada da ascensão social que este governo quer destruir”. “Não queremos uma Argentina para os ricos, inundada de pobres. Queremos uma Argentina igualitária, com dignidade para os trabalhadores e com acesso à educação, saúde e moradia”, enfatizou.
Como declarou o aniversariante Raúl, de Florêncio Varela, que completou 72 anos durante a manifestação, ter resistido a gás lacrimogêneo, espancamentos e perseguições durante diversas repressões tornou-se motivo de orgulho. “Nós sempre viemos. Eles nos espancam e na quarta-feira seguinte já somos mais. Não podemos esquecer que somos uma geração que, quando criança, sofreu com a ditadura. Temos a pele dura”, enfatizou.
Que bom conhecer o outro lado da situação argentina, além daquela cor-de-rosa que a mídia empresarial tenta nos impor. O povo argentino sempre se mostrou mais informado, mais articulado e mais combativo do que a maioria do povo brasileiro, logo, eu sempre esperei uma reação forte contra esse governo Millei, cópia barata do maluco Trump.