Professores de mais de 70 cátedras da Universidade de Buenos Aires deram aulas para centenas de jovens frente à Casa Rosada, na Praça de Maio, rechaçando a tentativa de rebaixamento salarial e do orçamento para a educação pública. A luta mantém as universidades nacionais paralisadas há três semanas.
Embaixo de tendas coloridas, diante de quadros-negros improvisados, e se protegendo da água que caía com guarda-chuvas, estudantes de universidades públicas e privadas, atendendo ao chamado dos professores, na sexta-feira, 24, presenciaram suas aulas na principal praça da capital argentina, encerrando assim a terceira semana consecutiva de greve universitária.
A atividade na qual foram ditadas mais de cem aulas públicas e que foi convocada pela Associação Gremial Docente AGD-UBA e a Federação Universitária de Buenos Aires, FUBA, surgiu no bojo do protesto nacional encabeçado por todos os sindicatos docentes (Conadu Histórica, Fedun e Conadu) em repúdio ao aumento salarial de 15% em cotas oferecido pelo governo de Maurício Macri. Os professores exigem que o aumento esteja na faixa de 25% e 30%”, de acordo com a inflação em curso.
Depois da reunião com autoridades do Ministério de Educação, dia 27, o Secretário geral da Federação Nacional de Docentes, Conadu Histórica, Luis Tiscornia, denunciou que a oferta do governo de um aumento de 15%, a partir de outubro, continua deixando os professores universitários muito abaixo da inflação prevista que, no décimo mês do ano, já superaria 24% e, portanto, sequer lhes permitiria manter o poder aquisitivo.
O presidente da (FUBA), Julián Asiner, afirmou que a jornada “foi realmente um sucesso porque se conseguiu manter a atividade ao longo de toda a tarde, apesar da chuva” e assinalou que “foi uma expressão do crescimento que tem tido a luta universitária da UBA, mas isso como parte do movimento nacional”. Em declarações ao jornal Página 12, comemorou o peso que tomou a reivindicação, o que ficou evidente nas mobilizações realizadas nas últimas semanas nas cidades de Córdoba, Rosario, La Rioja, La Plata, entre outras, e na ocupação de reitorias, assembléias e abraços simbólicos que aconteceram em diferentes localidades de todo o país.
Todos os membros da comunidade educativa insistem em ressaltar que o conflito excede a questão salarial porque existe, além disso, um arrocho orçamentário de 3 bilhões de pesos [cerca de 400 milhões de reais] anunciado pela Secretaria de Políticas Universitárias no inicio do ciclo letivo, que está acompanhado pela paralisação de obras de infraestrutura e o retardo dos repasses para pagar gastos de funcionamento.
Luis Tiscornia sublinhou que “há efetivamente uma política de agressão e de ataque contra a educação pública e a universidade pública”, em resposta a qual se formou “um movimento nacional em defesa, que inclui a reivindicação salarial já assumida pelo conjunto da comunidade universitária”.
O Conselheiro superior da UBA, o docente Juan Winograd, frisou que as declarações oficiais “não surpreendem porque se baseiam na estratégia geral deste governo para avançar em direção a um esvaziamento e privatização da universidade pública”.