Com inflação argentina sendo a segunda maior do continente, reforma de Macri corta a menos da metade o reajuste das aposentadorias. Desde o ano de 2001 não se via tamanha revolta popular
A revolta e os panelaços tomaram as ruas em volta do Congresso Nacional, nas principais avenidas da capital, na grande Buenos Aires e se espalharam por quase todas as províncias da Argentina, deixando claro que a política de jogar para cima dos trabalhadores sua política antinacional não terá vida fácil. Macri ganhou no parlamento mas perdeu, e de muito, nas ruas onde se registraram três enormes manifestações em dois dias. Milhares de pessoas entoaram consignas como “Macri basura, vos sos la dictadura (Macri lixo, você é a ditadura).A sublevação dos argentinos continuou na terça e na quarta-feira passadas depois que, sob uma feroz repressão aos mais de 500.000 manifestantes, o governo de Macri aprovou no Parlamento por 128 a 116, com duas abstenções e sem maioria absoluta, um rebaixamento dos reajustes das aposentadorias e das pensões dos argentinos. Em 2018 isso implicará em 5,7% de reajuste contra o que antes seria de 12%. A perda dos 17 milhões de aposentados e pensionistas, numa população de 44 milhões de pessoas, será de 19 bilhões de reais (100 bilhões de pesos argentinos).
A reação popular contra a reforma da previdência não ficou só ai. Surgiram outras reivindicações rejeitando a política educacional, cultural, os aumentos abusivos de tarifas públicas e as mentiras do governo que não cumpriu nenhuma das promessas que fez para se eleger. 500.000 pessoas amanheceram na terça-feira e o panelaço continuou à noite sem trégua. Na quarta-feira, as manifestações tomaram os bairros e não dão sinal de parar.
MANTRA SURRADO
Para justificar a arrocho de sua política, na quarta-feira, 20, Macri usou aquele surrado discurso de que com a reforma os aposentados estarão melhor, apesar de que a Previdência argentina já lhes tirou o direito a medicamentos gratuitos e as tarifas dos serviços públicos subiram entre 300 e 500%. E ainda, quando as imagens da violência e da repressão que há muito não se via corriam pelo mundo, disse sem se envergonhar que na Argentina se vive um clima de paz e anunciou que sairia de férias durante duas semanas.
Foi divulgada a notícia de que alguns deputados peronistas acompanharam o voto oficial porque sofreram ameaças de que o governo nacional deixaria sem recursos suas províncias. Mas a população não aceitou a desculpa. O deputado nacional Martín Lousteau, que foi ministro de Economia de Cristina Kirchner e foi um dos que ajudaram o governo de Macri a obter o quorum necessário para aprovar a reforma na segunda-feira passada, passou pela calçada durante um protesto dos funcionários do Banco da Província de Buenos Aires e foi severamente cobrado pela sua frouxidão. Teve que deixar o local escoltado pela polícia.
SUSANA SANTOS