Os trabalhadores argentinos participaram, com greves em diversas empresas, na quarta-feira (11), do terceiro dia da jornada nacional de lutas para exigir a revogação de milhares de demissões perpetradas pelo presidente, Mauricio Macri, que em janeiro cortou 25% do funcionalismo público do país.
“Os trabalhadores da mineração viajaram mais de três mil quilômetros para defender sua dignidade. Exigimos a reincorporação dos 500 trabalhadores demitidos da Yacimientos Carboníferos Rio Turbio (YCRT), e o fim das políticas de ajuste contra o Estado”, afirmou Christian Gordillo, vice-secretário da Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE), em entrevista à rádio AM 750.
Segundo ele, os mineiros da YCRT, empresa estatal responsável pela extração, transporte e comercialização de carvão mineral, chegaram a Buenos Aires e estão instalados na tenda em frente ao Congresso desde o início da greve, no dia 9, para “tornar evidente” a reivindicação dos trabalhadores contra “este governo que não quer nem mesmo nos ouvir”. Ele também afirmou que enquanto Macri ignora os trabalhadores,segue com seus “cortes, demissões, aumento de impostos e criminalização das manifestações sociais”.
NÃO AO ARROCHO
A jornada de lutas, com duração de uma semana, foi convocada pela ATE em conjunto com a Central dos Trabalhadores da Argentina – Autônoma (CTA). O protesto foi organizado sob a bandeira de “Sim ao trabalho, não ao ajuste” e teve inicio na segunda-feira (9), com encerramento previsto para a sexta-feira (13). Entre os principais trabalhadores mobilizados para as manifestações de greve, estavam os servidores do Hospital Posadas, Instituto Nacional de Tecnologia Industrial (INTI), Ferrobaires (empresa ferroviária) e YCRT, todas estas afetadas diretamente pelas políticas de demissão em massa do governo. Também juntaram-se a greve milhares de trabalhadores do setor privado, a exemplo dos operários do frigorífico Cresta Roja e da PepsiCo.
Ainda para Gordillo, a marcha de quarta responde a necessidade de ampliar a “coordenação de manifestações” em todo o país. “Essa é a maneira de ampliar nossa força contra o ajuste de Macri e dos governadores”, comentou ao ressaltar o envolvimento, tanto na greve quanto nas manifestações, de diversos setores do serviço público, a exemplo dos docentes, trabalhadores de repartições públicas, incluindo os servidores do setor aeronáutico estatal.
Durante a concentração ocorrida na frente do Obelisco, próximo a Avenida 9 de Julho, na cidade de Buenos Aires, uma das representantes dos movimentos sociais, Dina Sánchez, da Frente Popular Darío Santillán, ressaltou a importância da greve por se dar “num cenário de demissões, ajuste e precarização do trabalho. O governo quer desmantelar as leis e os programas de trabalho”. Ela também afirmou que os cortes são criminosos, principalmente por haver no país “milhares de famílias em situação de emergência social e econômica. Por isso nossa resposta é tomar as ruas e dizer não ao arrocho!”.
As centrais que dirigem o conjunto das manifestações também convocaram uma greve nacional no dia 11, como ponto culminante da semana de protestos.
A resistência popular à política de destruição da economia argentina, levada a cabo por Macri, tem se manifestados com paralisações nacionais e manifestações de multidões nas avenidas centrais de Buenos Aires, além das principais cidades do país.
REPRESSÃO
A retaliação contra os trabalhadores ocorreu durante a concentração nas proximidades do Obelisco, quando a polícia de Buenos Aires avançou contra os manifestantes sem nenhum motivo. “A policia começou a nos provocar apesar de nossa manifestação pacífica”, disse um dos trabalhadores da YCRT ao jornal argentino Página 12, relatando que o avanço policial contra a manifestação se deu após a formação de duas colunas, que ao encurralar os manifestantes, iniciou o disparo de bombas de gás e as cacetadas buscando dispersar os manifestantes.
A deputada Natalia Gonzalez, do partido PTS-FIT, disse que a manifestação “estava marchando pacificamente em direção a Avenida 9 de Julho, acompanhada pela polícia da cidade. Ao chegaram à Avenida de Mayo, os policiais nos encurralaram e começaram as agressões com gás lacrimogêneo. Eles tentaram dizer que os trabalhadores provocaram, mas eu vi como tudo aconteceu, foi uma iniciativa da polícia”, completou a deputada, assegurando que os trabalhadores estavam tentando dialogar contra a violência das tropas.
Segundo o relato de Marcelo Ramal, um dos dirigentes da Frente de Esquerda, que estava presente na manifestação, “a polícia começou a bater nos manifestantes que estavam no início da passeata”. Porém, a agressão se acirrou “quando nos aproximamos para evitar a detenção do mineiro, Daniel Uribe”, foi aí, diz Marcelo, que “fomos recebidos por uma chuva de bordoadas e bombas da polícia”.
Além do pacote de arrocho de Macri, que inclui medidas visando o corte de direitos trabalhistas, atacando as conquistas previdenciárias e sociais, seu governo, iniciado em dezembro de 2015, elevou o desemprego para 8,4% em 2016, e para o mesmo ano, também conseguiu contrair o PIB em -2,24%. Em 2017, o desmantelo que Macri provocou na economia elevou o custo de vida em 24,8%.
GABRIEL CRUZ