Milhares de pessoas tomaram as ruas de Mendoza, na Argentina, nesta terça-feira, contra o uso de cianureto, ácido sulfúrico e outras substâncias químicas nocivas ao meio ambiente pela mineração local, e exigir a modificação da lei para efetivar a sua proibição
Entoando “a água vale mais do que o ouro”, “o cianureto não resolve a fome” e “na lei 7.772 não se toca”, os manifestantes demonstraram o seu total repúdio ao projeto de legisladores locais que revogaram na última sexta-feira uma decisão de 2007 de impedir o uso de produtos químicos. Como explicaram, a modificação da 7.722 atende unicamente o interesse de transnacionais, o que vai gerar a contaminação da água, como já demonstrado em ocasiões anteriores.
As contínuas secas que vêm atingido a zona na última década restringiram drasticamente a disponibilidade hídrica da região do oeste argentino, conhecida por abrigar os picos mais altos dos Andes e reconhecida mundialmente pela qualidade de seus vinhos.
Entidades populares, ecologistas e Igreja alertam que a alteração feita sob encomenda para transnacionais, “representa uma clara violação à Constituição Nacional e aos princípios de não regressão ambiental e de progressividade, expressamente estabelecidos na Lei Geral de Ambiente”.
Desde que a armação veio à tona, os habitantes de Mendoza têm se manifestado com passeatas e bloqueios de rodovias pela revogação do criminoso atentado, defendendo que o governador Rodolfo Suárez, da União Cívica Radical (UCR), vete a decisão.
“O desenvolvimento não pode ser desculpa para contaminar nosso bem mais precioso”, afirmou a organização Jovens pelo Clima, sublinhando que “a reforma não faz mais que desperdiçar nossos recursos hídricos em uma atividade que demanda grandes subsídios estatais, mas que produz um enorme passivo ambiental a ser pago pela população”.
O maior acidente mineiro da história argentina ocorreu em setembro de 2015 quando um milhão de litros de uma mistura com cianureto e outros metais pesados saiu da mina da multinacional Veladero de San Juan e atingiu o rio Potrerillos, contaminando este e outras importantes fontes de água. Em 2016 houve um novo despejo tóxico e em 2017 outro. A mineradora canadense Barrick Gold, dona de Veladero, neste momento, foi denunciada à Justiça, porém após um rápido fechamento as autoridades voltaram a facilitar seu funcionamento.