Entre 2010 e 2019, a economia brasileira cresceu, em média, 1,39% ao ano, aponta estudo do economista Roberto Macedo, que é professor da Universidade de São Paulo e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Essa é a menor taxa de expansão para o Produto Interno Bruto (PIB) para uma década desde 1900, afirma o especialista em reportagem do Estadão.
Até então, o pior resultado anual foi constatado nos anos 90, quando a variação média no período foi de 1,75% (PIB é a soma de todas as riquezas produzidas no País).
É nesta época que a política neoliberal, ancorada no tripé macroeconômico de câmbio pró-importação e escancaramento das fronteiras comerciais, ajustes fiscais com redução dos investimentos públicos para produzir superávits primários, e metas de inflação – mantidas com juros elevados -, foi amplamente adotada no Brasil e começou a arrasar a economia nacional.
Série histórica: PIB Brasileiro anual desde 1962
Produto Interno Bruto – Taxa de variação real no ano
Em toda a década, do final de 2010 até 2019, essa política nefasta foi aplicada. Tanto Dilma como Michel Temer e, agora, Bolsonaro, mantiveram o tripé macroeconômico e o arrocho fiscal. O PIB, que em 2010 havia crescido 7,5%, em 2011 ficou em apenas 2,7%, com taxa de investimento de 20,6% do PIB.
PIB trimestral em 10 anos (2009 a 2019)
Taxa do trimestre contra trimestre imediatamente anterior, de 2009 a 2019, em %
Neste ano de 2011 a presidente Dilma Rousseff, que acabara de ssumir o governo, prometeu elevar o investimento para 24% do PIB. Em 2012, o PIB encolheu para 0,9%. A taxa de investimento ficou em 20,7% do PIB. Em 2013 o PIB teve uma variação positiva de 2,3% e a taxa de investimento mantêm-se em 20,9%. No segundo trimestre de 2014 o país começa a entrar na pior recessão de sua história.
PIB do Brasil nos últimos 10 anos (2009 a 2018)
O ano de 2014 fecha com um PIB de 0,1% e a taxa de investimento cai para 19,9%. Em 2015 o PIB já é negativo em 3,8% e a taxa de investimento desce para 17,8%. Em 2016, mais um ano de queda do PIB. Queda de 3,6% com uma taxa de investimento de apenas 15,5% do PIB. Em 2017 o PIB fica em 1,3% (revisado) e o investimento chega ao seu ponto mais baixo, 15,0% do PIB. Em 2018 o PIB se mantém em 1,3% e a taxa de investimento 15,8%. O ano de 2019 deverá repetir o desempenho dos anos anteriores com o país no fundo do poço. PIB em torno de 1% e taxa de investimento de 15,5% do PIB.
“A década de 2010 foi a pior para o crescimento do PIB entre as 12 analisadas”, afirma Roberto Macedo, um notório defensor da política neoliberal. Ele diz que “a crise fiscal foi o principal fator que levou o País à recessão”, mas, na verdade, a “crise fiscal” apontada não é causa da crise, mas sim consequência direta da aplicação do tripé macroeconômico citado acima, que foi imposto ao país pelos banqueiros e pelo Consenso de Washington.
A recessão teve início no segundo trimestre de 2014 e tecnicamente terminou no quarto trimestre de 2016. O economista lembra também que a recuperação nos anos seguintes tem sido a passos lentos, com avanços do PIB que não saem da casa de 1%. O estudo considera que cada década se inicia nos anos terminados em zero e vai até os anos que terminam em nove.
Terrorismo fiscal
Entre os economistas que consideram que última década foi a pior para economia brasileira está professor do departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), José Luis Oreiro. O economista defende que “para sairmos do buraco, temos de abandonar esse terrorismo fiscal”.
“Os economistas liberais estão sempre dizendo que a próxima reforma vai resolver o problema. Primeiro o teto de gastos, depois a reforma trabalhista, depois a da Previdência, agora a reforma dos servidores públicos. É uma narrativa que não tem base nos fatos. Objetivamente, a economia não acelerou o crescimento. Ela vai acabar saindo da crise em algum momento porque não há crises eternas”, destacou Oreiro, em entrevista ao Estadão.
O professor afirmou ainda que “a economia caiu 8% entre 2015 e 2017 e voltou a crescer [nos anos seguintes], mas em ritmo muito lento, de 1% ao ano. Se em 2020 mantivermos esse ritmo, só vamos recuperar o nível de PIB pré-crise em 2023. Para sairmos desse buraco, temos de abandonar esse terrorismo fiscal. O Brasil precisa voltar a investir. E, para voltar a investir, precisa tirar do teto de gastos o investimento público. Vivemos uma limitação autoimposta. Não há restrição objetiva que impeça o investimento público, a não ser o teto de gastos. Mas uma lei se muda com outra lei”.
“Não faz sentido colocar limites para o investimento. O Brasil tem uma enorme deficiência em infraestrutura. É óbvio que os projetos de infraestrutura têm uma taxa de retorno muito superior à taxa básica de juros (hoje no piso histórico, de 4,5% ao ano). Tem que aumentar o investimento público em obras de infraestrutura. Esse investimento recuperaria a economia muito rapidamente. Ele é um indutor do investimento privado: cria emprego, amplia o consumo, aumenta o nível de uso de capacidade instalada e as empresas investem”, observou José Luis Oreiro.