O arroz e o feijão, alimentos que compõe a base das refeições dos brasileiros, ficaram mais de 60% mais caros nos últimos 12 meses até março, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Getúlio Vargas. O arroz subiu 61% e o feijão preto ficou 69% mais caro. Adicionando a inflação de outros alimentos básicos, como carne, ovo, batata e salada, o prato feito está, em média, 23% mais caro do que há um ano.
O cálculo com os dez alimentos que compõem as refeições básicas da população também foi feito pela Fundação Getúlio Vargas. Além do arroz e do feijão preto, o feijão carioca aumentou 20%. As carnes registraram alta de 27,2%, no caso da bovina e 13,9% para o frango. O ovo está 10% mais caro, a batata aumentou 19% e a cebola, 40%.
Os dados de 12 meses acompanham exatamente o período da pandemia. Comer o básico ficou mais caro para os brasileiros enquanto o desemprego bate recordes e milhões de trabalhadores informais perderam as suas rendas. As parcelas do auxílio emergencial de R$ 600 pagas ano passado contribuíram para que as famílias garantissem o básico, mas o corte do benefício para R$ 250,00, em média, resultou em um auxílio emergencial que não compra nem a metade de uma cesta básica.
A inflação oficial do país, influenciada principalmente pelo custo dos alimentos, chegou a 6,1% em 12 meses até março. Apesar dos preços, o governo não se mobilizou para garantir a regulação dos preços no período de emergência. A FGV explica que os movimentos cambiais que favorecem as exportações de grãos e carnes deixaram os produtos básicos mais caros já que não há nenhuma política de estoque de alimentos.
Preços nos mercados em geral acumulam alta de quase 20%
O peso da inflação está maior para o supermercado, pressionando o orçamento das famílias. Em doze meses, desde o início da pandemia, as compras acumulam alta de quase 20%. O IPCA, índice oficial da inflação, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registra um aumento de 19,4% no grupo “alimentação em domicílio” ante fevereiro do ano passado.
Prévia de abril
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), a “prévia” da inflação oficial, mostra que o preço dos alimentos mantém trajetória de alta em abril. O grupo Alimentação e Bebidas passou de um aumento de 0,12% nos preços em março, para 0,36% em abril – uma das maiores contribuições para o inflação do mês, cuja taxa prévia é de 0,60%.
A alimentação no domicílio, que desde o início da pandemia aflige a legião de desempregados e sem renda, passou de queda de 0,03% em março para alta de 0,19% nos preços em abril, em média. Pão (+1,73), leite (+1,75%) e carne (+0,61%) pesam mais na cesta este mês. O arroz e feijão tiveram ligeira redução no índice, mas são os dois alimentos básicos das casas brasileiras que em 12 meses até março, chegaram a acumular alta 63,56% e 51,03%, respectivamente. Já a alimentação fora do domicílio subiu 0,19% em abril.
A inflação dos transportes permanece pressionada pelo preço da gasolina, que acumulou alta de 43,7% desde o início do ano e de 5,49% em abril. O óleo diesel (2,54%) e o etanol (1,46%) também tiveram altas, O IPCA identificou aumento de 4,97% no preço dos combustíveis e o grupo de transportes, com avanço de 3,76%, deu a maior contribuição para o índice.
Após uma sequência de reajustes dos preços dos combustíveis nas refinarias da Petrobrás, com aval de Bolsonaro, desde janeiro a direção da estatal elevou o preço da gasolina em 43%, o diesel aumentou em 36,6%. Com a manutenção da atual política de preço atrelada ao mercado internacional e ao dólar, anunciada pelo atual presidente da Petrobrás, general Jaquim Silva e Luna, os preços vão continuar elevados nas refinarias, assim como nas bombas para o consumidor final.
Botijão de gás e energia elétrica também sobem
O custo das famílias com habitação, que em março cresceu 0,71%, aumentou 0,45% em abril. O resultado foi puxado pelo aumento de 2,49% no gás de botijão, que acumula uma alta de 20,22% nos últimos 12 meses. A energia elétrica ficou 0,47% mais cara em abril, impulsionada pela alta de 4,34% no Rio de Janeiro, devido aos reajustes tarifários nas concessionárias locais.
No ano, o indicador de inflação total acumula alta de 2,82% e, em 12 meses, de 6,17%, acima do teto da meta do governo, que é de 6% – em março, o indicador acumulado em 12 meses ficou em 5,52%.
Auxílio emergencial de 2021 não alcança nem a metade da cesta básica
O custo da cesta básica pesquisado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) foi calculado em R$ 600, em média, na maioria das capitais brasileiras. Enquanto isso, os números de brasileiros vivendo em situação de pobreza e pobreza extrema como desdobramento da pandemia crescem.
O Dieese destaca que as parcelas do auxílio emergencial de R$ 600 pagas no ano passado foram fundamentais para a manutenção da renda das famílias, em especial em um momento de carestia.
No entanto, o corte no benefício pela metade e posterior retorno a valores que variam de R$ 150 a R$ 375, são insuficientes para bancar os gastos mínimos com a alimentação.
“Qualquer auxílio que não alcance pelo menos os R$ 600 do ano passado se torna inviável”, diz a economista Patrícia Costa. “Porque no ano passado não havia essa inflação de alimentos. Agora a gente tem aumento de 20% nos produtos da cesta básica, em quase todas as capitais. Em vez do valor do auxílio aumentar, diminuiu”.
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