
Os bloqueios de estradas que se espalharam por várias partes do país logo após o segundo turno das eleições começam a afetar serviços de saúde. Alguns hospitais, por exemplo, sinalizaram que a entrega de oxigênio, um insumo básico necessário para manter pacientes internados em situação mais grave, pode sofrer atrasos no abastecimento.
A sinalização foi feita após o encaminhamento de um comunicado por parte da Air Liquide, uma das principais empresas que atua no setor de gases medicinais, ainda em 31 de outubro, com gerentes de hospitais.
“A nossa produção e distribuição de gases medicinais, industriais e especiais, está sob real risco em função dos efeitos de tais manifestações pois, por um lado, não conseguimos escoar nossa produção, por outro, não temos como receber os caminhões nas fábricas e transportar os produtos para os nossos clientes”.
O comunicado ainda alerta que a empresa pode ficar impossibilitada “de atender a demanda de gases, até que a situação de crise nacional se normalize”.
Soraya Trani, gerente da Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba, no interior paulista, informou que o hospital ainda tem suprimentos suficientes porque os estoques de insumos de muitos hospitais foram reforçados por conta da pandemia de covid-19 nos últimos dois anos.
Para Trani, alertas como esses, enviados por empresas e associações, sinalizam uma preocupação e requer que os profissionais de saúde fiquem atentos para possíveis problemas futuros.
Os estados mais afetados pela baderna promovida pelos apoiadores de Jair Bolsonaro, com o fechamento das estradas são Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
Por sua vez, o Hospital das Clínicas de São Paulo, o maior complexo do tipo da América Latina, disse à BBC Brasil que ainda não conseguiu mensurar ao certo se os protestos afetaram demais a rotina nas últimas horas.
PRODUÇÃO DE VACINAS
Outra preocupação também é com as doses de vacinas da gripe, que serão usadas na rede pública a partir de março de 2023. O Instituto Butantan, responsável pela produção desses imunizantes, informou que uma carga de 520 mil ovos, ingrediente fundamental para a produção da vacina, ficou paralisada nas proximidades de Jundiaí (SP).
“A produção de 1,5 milhão de doses de vacina contra influenza (o vírus causador da gripe) pode atrasar por causa da paralisação dos caminhoneiros”, divulgou o instituto, por meio das redes sociais.
Para driblar o bloqueio dos baderneiros, o Butantan informou à BBC que precisou pedir ajuda à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para fazer a carga de ovos chegar a tempo. Caso o carregamento não fosse entregue até o final da manhã desta terça-feira, a fabricação poderia ficar comprometida.
Contudo, os técnicos responsáveis por esse processo estão avaliando para ver se as centenas de milhares de ovos estão próprias para uso.
CIRURGIAS CANCELADAS
Em Santa Catarina, o Hospital Santa Isabel, em Blumenau, interior do estado, informou que, na segunda-feira (31), três cancelamentos de cirurgias eletivas (aquelas que não são urgentes) foram canceladas.
Em duas delas, os pacientes eram de cidades vizinhas e não conseguiram chegar. Na outra, os insumos vinham de Curitiba (PR) e não foram enviados em tempo hábil. Nesta terça-feira a rotina foi mantida sem alteração e a unidade declarou possuir “estoque suficiente para atender todos os procedimentos emergenciais e eletivos”.
Já com relação a exames e diagnósticos a situação é diferente. A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) comunicou que “laboratórios de medicina diagnóstica de todas as regiões brasileiras já registram dificuldades em relação ao transporte e abastecimento de insumos, como reagentes e contrastes, e até mesmo de amostras coletadas dos pacientes para processamento de exames”.
“A situação atual traz risco relevante aos cuidados fundamentais de pacientes portadores de doenças que necessitam de intervenção imediata e contínua”, completa o texto.