“Não tem como propor uma solução a curto prazo, de onde vem [os recursos]?”. “Eu não sou mágico”, disse o candidato de Bolsonaro a presidente da Câmara, repetindo Paulo Guedes
O deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato à presidência da Câmara, com apoio de Bolsonaro, reafirmou que o ajuste fiscal “é fundamental” e ignorou a discussão que está tomando conta dos parlamentares no momento sobre a prorrogação do auxílio emergencial.
“O auxílio emergencial precisa acontecer de uma forma que o mercado possa suportar”, disse, ou seja, os que não tem renda ou oportunidade de trabalho devem suportar a impossibilidade de alimentar suas famílias, mas o “mercado”, o todo poderoso “mercado”, na avaliação do candidato de Bolsonaro para dirigir a casa de leis mais importante do país, não pode “suportar”.
“O Brasil tem muitos problemas urgentes. E temos de dar respostas imediatas ao drama da pandemia, vacinar todos os brasileiros, retomar as reformas, o desenvolvimento, criar empregos, destravar a economia, garantir a estabilidade fiscal, que é fundamental”, escreveu o deputado no twitter na segunda-feira (25), sem tocar no assunto sobre o auxílio emergencial.
Lira (PP-AL) já havia dito, em outra oportunidade, ao ser questionado sobre uma solução de curto prazo para o fim do auxílio emergencial pago pelo governo federal a trabalhadores vulneráveis durante a pandemia, que “não tem como propor uma solução a curto prazo, de onde vem [os recursos]?”. “Eu não sou mágico”, disse.
E colocou vários obstáculos para fugir do problema do auxílio emergencial. “Agora, a gente está no recesso, sem orçamento, sem previsão de PLNs. Eu não sei como a Câmara vai se reunir para criar imposto, no período de recesso, e resolver esse problema. Não pode fazer esse tumulto, isso aí não é brincadeira”, disse ele. PLNs são Projetos de Lei do Congresso Nacional que liberam recursos do Executivo.
Em sintonia com o governo Bolsonaro, o deputado disse na quinta-feira (21), na reunião mensal do Conselho Político e Social (COPS), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que aceitaria a volta do auxílio desde que o número de beneficiários fosse bem menor para não romper com o ajuste fiscal e extrapolar o famigerado teto de gastos, que impede aumento de investimentos do governo.
“Apenas ratificando o que eu quis dizer em reunião hoje pela manhã com investidores: primeiro reforçar meu compromisso com a disciplina fiscal que vem sendo implementada”, escreveu Lira, reafirmando sua posição em relação ao auxílio.
“Qualquer discussão sobre eventual auxílio emergencial adicional deve ser feita de forma responsável e acompanhada do aprofundamento de reformas que viabilizem a consistência fiscal de médio e longo prazos no Brasil”, argumentou.
O deputado defendeu que haja um programa de auxílio “permanente, responsável e dentro do teto de gastos”.
Segundo ele, o teto de gastos que engessa os programas sociais e investimentos públicos deve ficar “intocado”, mesmo durante a mais grave crise sanitária dos últimos cem anos e do agravamento do quadro de desemprego no país.
Ele defende a manutenção do teto de gastos e o corte no abono salarial (espécie de 14.º salário pago a trabalhadores com carteira que ganham até dois salários mínimos) para bancar o novo Bolsa Família, como sinalizou Paulo Guedes, ministro da Economia.
“Não vejo nenhuma hipótese de ter mais um ano de prorrogação da PEC da guerra [que livra o governo de cumprir normas fiscais no ano]”, disse Lira, na segunda-feira, em entrevista à imprensa.
Arthur Lira repete o que Bolsonaro e Guedes dizem contra a prorrogação do auxílio emergencial diante do recrudescimento da pandemia, mesmo diante de um cenário mundial em que várias nações ainda sustentam programas sociais aos seus cidadãos destituídos de qualquer renda em razão da pandemia.
“A palavra é emergencial. O que que é emergencial? Não é duradouro. Não é vitalício. Não é aposentadoria. Lamento, tem muita gente passando necessidade, mas a nossa capacidade de endividamento está no limite”, disse Bolsonaro a apoiadores na segunda-feira (25). Pelo jeito, Lira aprendeu bem a lição com seu apoiador.
“Quer criar o auxílio emergencial de novo, tem que ter muito cuidado”, disse Guedes. Ele só admite a volta do auxílio se a vacinação fracassar e a pandemia piorar. E mesmo assim se cortar gastos com outros benefícios.
“Vamos observar. Caso o pior aconteça, se a doença volta, como compatibilizar uma coisa com a outra [pandemia e responsabilidade fiscal]? Bom, temos o protocolo da crise [medidas de 2020], aperfeiçoado agora”, afirmou.