![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2021/02/lir.png)
“Não acredito em um veto do presidente Bolsonaro”, disse ele, acrescentando que falta a Barra Torres perceber que o Brasil está numa “situação de guerra” e que ele precisa começar a se mexer mais rápido
O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, indicado por Bolsonaro para o cargo, esteve na quarta-feira (10), no Planalto para pedir o veto à Medida Provisória que acelera a liberação de vacinas para uso emergencial no Brasil.
A MP foi aprovada pelos senadores diante da gravidade da pandemia, que segue matando cerca de mil brasileiros por dia, e também por conta da extrema morosidade com que a Anvisa vem tratando o assunto.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), disse na quarta-feira (10) que não acredita que o presidente Jair Bolsonaro vá vetar o prazo de cinco dias imposto pelo Congresso para que a Anvisa aprove o uso emergencial de vacinas contra a Covid-19.
“Não acredito em um veto do presidente Bolsonaro”, disse Lira, em entrevista à Band News. Ele defende um esforço por parte da agência para acelerar o processo de aprovação de vacinas, diante do que chamou de uma “situação de guerra” contra o coronavírus”, argumentou.
E acrescentou: “O Brasil está necessitando urgentemente de mais vacinas porque a pandemia só será controlada, e as milhares de pessoas vão parar de morrer, se toda a população, ou grande parte dela, for vacinada rapidamente”.
A Anvisa demorou para aprovar as duas primeiras vacinas, a CoronaVac e a vacina da Oxford/AstraZeneca. Foi necessário muita pressão por parte do governo de São Paulo, que até marcou data para começar a vacinar sua população. O intuito era pressionar o Planalto a se mexer.
Só com esta pressão, a Anvisa parou de atrapalhar e começou a trabalhar no ritmo que o país exigia. Aprovou as duas vacinas de uma só vez. Só que a CoronaVac, do Instituto Butantan, em parceria com a empresa chinesa Sinovac, ofertou 11 milhões de doses e está processando mais oito milhões, sendo que a quantidade de vacinas da Oxford/AstraZeneca, produzidas em parceria com a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), está em dois milhões de doses.
Para imunizar a população nos níveis que detenham o vírus estamos falando em 340 milhões de doses. O Butantan vai produzir um milhão de doses por dia, mas só depois de setembro. A Fiocruz está na dependência de insumos que estão chegando com atraso. São necessárias, portanto, mais vacinas além dessas duas já aprovadas.
É notório que o indicado de Bolsonaro para dirigir a Anvisa não quer ajudar. Ele está contra a vacina da Rússia com a União Química. Ele quer atrapalhar, como, aliás, é só o que sabe fazer o seu chefe.
Bolsonaro fez grandes esforços contra as vacinas e até hoje trabalha para inviabilizá-las. Até na vacinação de sua mãe, de 93 anos, o leso cria caso e atrapalha. Seu irmão o consultou sobre a imunização da idosa e ele enrolou, questionou a eficácia das vacinas e não respondeu.
É por tudo isso que o Senado está exigindo pressa da Anvisa. Para que ela e seu corpo técnico não sirvam de instrumentos do negacionismo bolsonarista.
Bolsonaro atacou as vacinas sistematicamente, disse que quem quiser tomar, que arque com as consequências, porque a vacina provocaria doenças, deformações, etc. Comemorou como se fosse vitória sua a morte de um participante dos testes da CoronaVac no Brasil. “Mais uma vez, Bolsonaro venceu”, disse ele no twitter, tendo que apagar a mensagem às pressas quando veio a público que era um suicídio, sem nenhuma ligação com a vacina.
A empresa brasileira União Química se associou com o Instituto Gamaleia, da Rússia, criador da vacina Sputnik V, e entrou com um pedido para a Anvisa autorizar seu uso emergencial. A vacina já foi aprovada para uso na Rússia e em dezenas de outros países do mundo, inclusive, vizinhos nossos como a Argentina e o Chile. Nenhum evento adverso foi relatado com o uso da vacina Sputnik V que tem 91% de eficácia. A Anvisa praticamente fechou as portas para o uso desta vacina.
A empresa nacional, com sedes em Brasília e Guarulhos, informou ao governo, através de seu presidente, Fernando de Castro Marques, que já dispõe de imediato de 10 milhões de doses e capacidade de produzir oito milhões de doses por mês.
Diante do comportamento quase negacionista do presidente da Anvisa, que, aliás, desfilava sem máscaras junto com Bolsonaro no início da pandemia, os parlamentares aprovaram a MP em tramitação no Senado, que agiliza a disponibilização de vacinas para a população.
Os senadores reduziram de 10 para cinco dias o prazo para aprovação de vacinas já aprovadas em países com agências reconhecidas como referência pelo órgão.
A MP acrescentou ainda a Rússia na lista, que já continha agências de países europeus, asiáticos e dos EUA. Barra Torres reclamou da MP dizendo que ela fere a soberania nacional. Ele só levantou esse pretexto quando os parlamentares incluíram a Rússia. Antes, não via problema de soberania. Então, fica claro que o diretor da Anvisa não está falando sério.
Barra Torres atacou diretores da empresa União Química dizendo que eles eram lobistas atuando no Congresso Nacional para pressionar a Anvisa. O desrespeito ao Congresso e à empresa foi respondido pelo líder do governo, deputado Ricardo Barros, que disse que “lei não é para gostar ou não. Lei é para ser cumprida”.
Agora é o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, que também critica a intenção do presidente da Anvisa de barrar o uso da vacina Sputnik V no Brasil.
A perseguição gratuita à vacina desenvolvida pela União Química em parceria com o renomado Instituto Gamaleia ficou mais evidente ainda quando, na terça-feira (9), o mesmo diretor da Anvisa anunciou que as vacinas do consórcio Covax Facility, uma iniciativa da OMS (Organização Mundial de Saúde), seriam liberadas.
As vacinas do consórcio não serão nem avaliadas pela Anvisa. Serão aprovadas automaticamente para uso imediato no Brasil. A medida em si é correta. A única estranheza é o fato deste mesmo critério não servir para outras vacinas como a Sputnik V.