Renomados intelectuais, artistas e personalidades da cultura da América Latina e da Europa atertaram para o risco antidemocrático representado pelo defensor da tortura nas eleições deste domingo.
“Bolsonaro representa um risco extraordinário para a América Latina e para o mundo inteiro, pois é um candidato que não podemos vacilar de qualificar como fascista”, avalia o escritor mexicano Juan Villoro, frisando que o candidato da extrema-direita é “racista, segregador e homenageia torturadores”. “Estamos diante da ascensão de uma irracionalidade política, o que nos obriga a recordar que Hitler chegou democraticamente ao poder”, alertou.
Segundo o escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez, “Jair Bolsonaro é um fascista e seria um grave erro não chamá-lo por esse nome”. “O que ocorre é que um fascismo de novo tipo, que ainda não nos espanta como deveria, talvez porque atua desde dentro, minando a democracia mediante a exploração das suas próprias liberdades. Porém os traços são inconfundíveis: o elogio a autoritarismos militaristas, a violência verbal mais cínica e direta jamais vista em décadas na política latino-americana”, denunciou. Vásquez assinalou que Bolsonaro faz uma campanha “extremista”, “marcada pela desinformação via Facebook e por calúnias em cadeia via Whatsapp, propiciadas pelo ressentimento, medo e ignorância”, que precisa ser derrotada para não levar “ao desmantelamento da democracia”.
De acordo com o escritor nicaraguense Sérgio Ramírez, “Bolsonaro surge do desencanto com uma esquerda que, ao ser culpada de atos de corrupção, matou muitas esperanças, mas surge também da transformação de um eleitorado imenso, o maior e mais variado da América latina, numa grande escola de samba onde baila sua dança macabra a demagogia mais pervertida e ensaia seu passo a nostalgia das ditaduras militares”.
“Bolsonaro seria a vitória do preconceito e da intolerância”, declarou o cineasta brasileiro Walter Salles, lembrando que “em relação ao seu programa econômico, convém recordar que o ultraliberalismo da escola de Chicago somente conviveu com regimes ditatoriais na América Latina, como no Chile de Pinochet”, com seus milhares de mortos e desaparecidos.
DITADORZINHO
Para o jornalista mexicano Jorge Ramos, “Bolsonaro reflete, desafortunadamente, ao pior do Brasil e da América Latina”, remetendo à ideia do retorno a época de “tiranos e ditadorzinhos”.
Para a atriz brasileira Alice Braga, “Bolsonaro espalhou o ódio de tal maneira que faria Marine Le Pen ficar envergonhada ou Trump parecer um moderado”. Do ponto de vista do agronegócio, alertou, “abrirá caminhos para que os ruralistas marchem pela Amazônia armados com pistolas, pesticidas e motosserras”. Sendo assim, conclamou, “necessitamos da união de todos agora, pois Isto não é somente um problema do Brasil, é um assunto de todos para termos um futuro mais seguro”.
Na avaliação do escritor colombiano Héctor Abad Faciolince, as forças democráticas estão enfrentando a candidatura do “mais arrogante e mais louco”, o que é totalmente compreensível numa situação desesperadora como a que o Brasil se encontra. “Ele não se parece em nada ao político tradicional. Além disso, oferece supostas soluções fáceis de entender: a ira fascista, a repressão feroz e a xenofobia rasteira”.
Para o argentino Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz em 1980, o voto em Haddad significa a união pela democracia. “Muitos que estão em silêncio ainda estão em tempo para que a história não os recorde como covardes, tal como lembramos hoje aos que, em outras épocas, deixaram avançar o terrorismo fascista”, frisou.
PRECIPÍCIO
Segundo o ator mexicano Gael García Bernal, “Bolsonaro coloca o Brasil à beira do precipício” e sua candidatura tem a ver, “assim como o incêndio do Museu Nacional, com negligência, com um tremendo abandono da construção do país”.
Para o escritor venezuelano Alberto Barrera, o simples fato de aparecer alguém como Bolsonaro como candidato à Presidência já reflete “a crise de representação e liderança, do fracasso da política que vive o continente”. “Sua popularidade não é ideológica. Nela há mais desespero que racionalidade, mais falta de opções que discernimento”, sendo fundamental barrar o retrocesso autoritário que representa, pois somente aprofundaria a crise que vive a região.
“O racismo de Trump é lamentável, porque é o prolongamento do passado de supremacia dos Estados Unidos. E apesar de todas suas barbaridades acerca das mulheres, de seus opositores, seus comentários não se aproximam nem de perto do racismo de Bolsonaro, cuja retórica inclui ódio e fogo”, condenou o cantor espanhol Joan Manuel Serrat.
O filósofo e escritor Bernard-Henri Lévy acredita que para o duro embate do próximo domingo, “o Brasil deve reunir forças na sua dolorosa memória e na recordação dos horrores da ditadura militar que entre 1964 e 1985 tomou o país como refém e dizer #EleNão ao candidato da extrema direita”. “Bolsonaro expõe abertamente seu desprezo pelas regras democráticas, despreza os direitos humanos e as minorias. Com Haddad, a democracia vencerá a barbárie”, concluiu.
Com informações do El País