Em manifesto, assinado por 1.893 personalidades, eles condenam a perseguição aos professores, cientistas e jornalistas
Artistas e intelectuais do Brasil e do mundo denunciam em manifesto que “as instituições democráticas brasileiras têm sofrido” ataques “desde o começo da gestão de Jair Bolsonaro”.
De acordo com o texto, há uma “escalada autoritária, refletida em uma sistemática tentativa de controle e cerceamento de várias instituições culturais, científicas e educacionais brasileiras e aos órgãos da imprensa”.
O manifesto, que é assinado por 1.893 personalidades, entre artistas, intelectuais e políticos, de dentro e de fora do Brasil, cita a perseguição aos professores, cientistas e jornalistas.
Entre as personalidades brasileiras signatárias do documento estão os cantores e compositores Chico Buarque, Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Maria Gadu; o escritores Paulo Coelho, Conceição Evaristo; atrizes, como Bete Mendes, Maria Fernanda Cândido, Dira Paes, Alinne Moraes, Mel Lisboa; o fotógrafo Sebastião Salgado; o ex-jogador Juninho Pernambucano.
Do exterior assinam o ator norte-americano Willem Dafoe, o escritor moçambicano Mia Couto, o linguista Noam Chomsky, o cantor Sting, a filósofa Nancy Fraser, o compositor Philip Glass, entre outros.
O documento cita que “a partir de um programa moralista e ideológico fechado e compactuado, essa administração busca mudar o conteúdo dos livros escolares, dos filmes nacionais, restringir o acesso a bolsas de estudo e de pesquisa, intimidar o corpo docente, os jornalistas e os cientistas”.
“Logo no início da gestão, membros do partido pelo qual Bolsonaro foi eleito (PSL) pediram, publicamente, que alunos filmassem seus professores e os denunciassem por “doutrinação ideológica”, através de filmagens e seu compartilhamento nas mídias sociais. Essa campanha estilo “caça às bruxas”, chamada de “escola sem partido”, gerou insegurança nas escolas e universidades, em um país que há pouco mais de três décadas saiu de uma ditadura militar opressora. Em janeiro de 2020, Bolsonaro afirmou que os livros didáticos brasileiros “tinham muita coisa escrita” e sugeriu que o Estado interferisse diretamente no conteúdo das obras que chegam às escolas públicas, e de forma sectária”, continua.
“A administração Bolsonaro deixou claro que não tolerará qualquer desvio de sua política ultraconservadora. O diretor de marketing do Banco do Brasil, Delano Valentim, foi demitido por haver colocado no ar uma propaganda, censurada pelo governo no início de 2019, que refletia inclusão racial”.
“Mais tarde, no mesmo ano, enquanto a floresta Amazônica brasileira queimava em níveis alarmantes, a administração retaliou contra cientistas que ousaram mostrar fatos. Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foi exonerado por divulgar dados de satélite do desmatamento no Brasil”.
Bolsonaro afirmou que Galvão estava a serviço de ONGs internacionais.
“No dia 16 de janeiro, o ex-Secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim, e Bolsonaro, em uma transmissão conjunta, elogiaram a “guinada conservadora” e o “recomeço da cultura” do país. No dia seguinte, Alvim plagiou o nazista Joseph Goebbels quando fazia o anúncio de um novo prêmio nacional das artes. O secretário foi exonerado por conta da imensa reação que seu discurso gerou na sociedade civil. Mesmo assim, Alvim era a voz do projeto bolsonarista de contínua afronta à liberdade de expressão, com mudanças que demonstram retrocesso na liderança e no funcionamento de diversos órgãos, como o Conselho Superior de Cinema, da ANCINE, do Fundo Setorial Audiovisual, da Biblioteca Nacional, do Iphan —Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional— e da Fundação Palmares”, destacam os artistas e intelectuais no texto.
O manifesto também frisa que a denúncia contra o jornalista Glenn Greenwald, que apenas publicou as conversas obtidas por hackers foi “um ataque à liberdade de imprensa”. A denúncia foi rejeitada pela Justiça.
“Somente em 2019 contabilizaram-se 208 agressões a veículos de comunicação e a jornalistas”, diz o manifesto.
Os signatários frisam que se reuniram “para condenar estes atos de violência e de aparelhamento burocrático e ideológico do Estado, para que não se configure em um programa eficiente e regular de censura” e “pressionar o governo brasileiro para que ele siga a Declaração Universal de direitos humanos, e com isso respeite a liberdade de expressão, de pensamento e de religião”.