
O mundo está a dez dias das comemorações do 1º de Maio. A data é comemorada no mundo inteiro. É uma homenagem dos que trabalham aos heróis que lutam, dedicam sua vida e não raro seu sangue contra opressão e a exploração. A data eternizou os oito heróis de Chicago, EUA, enforcados, em 1886, a mando da burguesia, por liderarem uma greve pela redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas. É um dia de festa, porque não se trabalha, porque aquele que nada possui a não ser sua força de trabalho é exaltado. Mas, pela sua essência, é um dia fundamentalmente de protestos.
No Brasil, neste ano, as centrais sindicais prepararam panfletos, vídeos, banners eletrônicos e tudo mais para convocar uma grande festa no 1º de Maio. Material leve, alegre e positivo. Um sonho. Falam de uma genérica unidade, genéricos emprego, renda e democracia. Os operários, os desempregados, os trabalhadores em aplicativo, os que trabalham na informalidade (fazem bicos), os sem teto e o lumpemproletariado são convocados, indistintamente, pelas redes sociais para o show com artistas de boa vontade. Eles são a garantia de um aparente sucesso. Os discursos serão feitos com habilidade, para não atrapalhar a festa, com exceção do presidente Lula, por quem o povo tem muita gratidão.
Mas a convocação, até o momento, nem se dá conta que o Brasil é um país exaurido pela rapinagem dos cartéis financeiros, que sugam a energia e o fôlego dos que produzem, diariamente assaltado com o pagamento de escorchantes e insuportáveis juros aos cartéis financeiros, e que teve sua indústria, uma das mais poderosas do mundo, aniquilada, pela ação predatória dos monopólios internacionais.
Não dá conta que o povo não aguenta mais desemprego, fome, pandemia, rede de saúde esculachada, insegurança nas escolas, ensino de péssima qualidade e comunidades miseráveis entregues nas mãos de traficantes e milicianos. Nem uma linha, nem uma palavra pelo acerto de contas com os opressores, de solidariedade com a revolta, de compromisso em marchar junto por dias melhores.
E olha que se abriu uma esperança, acompanhada de uma grande expectativa, com a eleição de Lula, que é como povo, um trabalhador, que viveu os sofrimentos do povo e que pode, com apoio e pressão dos seus companheiros de classe, recuperar os direitos roubados. Pode derrubar os juros siderais. Pode usar os recursos do país para a reindustrialização, para melhorar a saúde, a educação. Instituir um salário mínimo que sustente uma família, como na época de Getúlio.
Senão, depois do final da festa, não fica nada. Tudo permanece como era. Por isso, o melhor é que o 1º de Maio seja um grito de independência dado pelo movimento sindical. Ou o sonho vira pesadelo.
CARLOS PEREIRA