O general Carlos Alberto Santos Cruz declarou, em entrevista à CNN, que “não existe banda podre das Forças Armadas. Seria um exagero considerar isso. Você tem um problema ou outro e são tomadas as providências normais”.
Santos Cruz se referia ao que fora dito pelo presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz, na quarta-feira, durante o depoimento de Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde: “As Forças Armadas, os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mídia, porque fazia muito tempo, fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo. Fazia muitos anos. Aliás, eu não tenho nem notícia disso na época da exceção que houve no Brasil, porque o Figueiredo morreu pobre, porque o Geisel morreu pobre, porque a gente conhecia… E eu estava, naquele momento, do outro lado, contra eles. Uma coisa de que a gente não os acusava era de corrupção, mas, agora, Força Aérea Brasileira, Coronel Guerra, Coronel Hélcio, General Pazuello e haja envolvimento de militares das Forças Armadas”.
O general Santos Cruz apontou o exagero da colocação do senador, mas considerou natural que militares sejam convocados pela CPI e interrogados sobre os negócios e trâmites no Ministério da Saúde, durante a gestão de Eduardo Pazuello:
“Isso não tem nada a ver com a instituição Forças Armadas”, disse Santos Cruz. “Não se pode confundir as responsabilidades pessoais com a postura institucional”.
Com efeito, os malfeitos de um ou alguns membros das Forças Armadas não são malfeitos das Forças Armadas, da instituição Forças Armadas, nem constituem delitos de um “lado” ou “banda” podre da instituição.
Pelo contrário, esses indivíduos são aqueles que não honram a instituição – como o próprio senador Aziz lembrou em seu discurso no plenário, também na quarta-feira -, portanto, a rigor, se excluem dela do ponto de vista moral, do ponto de vista dos próprios valores da instituição.
Por outro lado, a nota, preparada pelo ministro da Defesa e pelo Planalto, contra Aziz, também é um exagero. No texto, assinado pelo ministro e pelos comandantes militares, é dito, sobre a declaração do presidente da CPI: “Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável”.
Basta ler a declaração de Aziz, para concordar, com ele, em que essa reação foi “desproporcional”, mais ainda, se tomarmos conhecimento de outras duas declarações dele, durante a quarta-feira:
“Quando a gente fala de alguns oficiais do Exército, é lógico, nós não estamos generalizando. De forma nenhuma, não estamos entrando aqui no mérito que as Forças Armadas têm.”
E, também:
“O que eu falei é que, às vezes, aparece aqui tenente-coronel, coronel, e que isso não é bom para as Forças Armadas. É bom esclarecer, para que não fiquem três ou quatro pessoas sendo citadas como se fosse todo o contingente. O nosso respeito do Senado e dos brasileiros às Forças Armadas brasileiras.”
Mas o general Santos Cruz tem razão ao dizer que o termo “lado podre” foi inadequado, porque isso não existe nas Forças Armadas. Podem existir elementos que, como em qualquer outro lugar ou instituição, apodrecem, mas não há uma banda podre nas Forças Armadas – não existe algo nas Forças Armadas como, por exemplo, as milícias dentro da polícia, que se tornaram base de Bolsonaro (v. HP 24/04/2019, Bolsonaro e as milícias).
Não precisamos, portanto, nos aferrar aos exageros ou às desproporcionalidades cometidas em um dia especialmente tenso.
O Brasil precisa de todos os seres humanos que o amam, justamente para livrá-lo dos que o odeiam – e a seu povo.
CARLOS LOPES
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