Assange acusa membros da fundação Nobel de “promover a guerra”

Julian Assange, fundador do WikiLeaks, revelou ao mundo imagens dos assassinatos de civis no Iraque (AFP)

Para o WikiLeaks, a organização Nobel tem a obrigação de “garantir o cumprimento do propósito estipulado no testamento de seu fundador, que é acabar com as guerras e os crimes em conflitos, e não facilitá-los”, quando se premia a uma vende-pátria como a venezuelana Corina Machado

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, apresentou uma queixa-crime nesta quarta-feira (17) à Autoridade Sueca de Crimes Econômicos e à Unidade de Crimes de Guerra contra 30 pessoas ligadas à Fundação Nobel por “crimes graves”, incluindo abuso de confiança, apropriação indébita de fundos, conspiração e facilitação de crimes contra a humanidade.

Perseguido pelo governo dos EUA por ter revelado ao mundo imagens dos assassinatos de civis no Iraque pelas tropas invasoras americanas, Assange passou 14 anos confinado entre a embaixada do Equador em Londres e uma prisão britânica, de onde somente foi libertado em junho de 2024.

Assange acusa a Fundação Nobel de transformar o “Prêmio da Paz” em um “instrumento de guerra”, denunciando que a organização condecorou recentemente, na contramão dos seus princípios fundadores, a golpista venezuelana María Corina Machado, notória marionete do governo Trump.

O fundador do Wikileaks esclareceu em sua denúncia que o testamento de Alfred Nobel (1895) determina que o prêmio seja concedido à pessoa que, durante o ano anterior, tenha conferido “o maior benefício à humanidade” realizando “o melhor trabalho pela fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução dos exércitos permanentes e pela realização e promoção de congressos de paz”.

Contra os propósitos da organização, afirmou o jornalista, houve “apropriação indébita grave e conspiração”, com o desembolso pendente de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,5 milhões) do prêmio da paz para Corina Machado, “cujas ações passadas e presentes a excluem categoricamente dos critérios estabelecidos no testamento de Alfred Nobel”.

ESCALADA BELICISTA NO CARIBE E NO PACÍFICO

Sobre a acusação de “facilitar crimes de guerra”, Assange assinalou que “os acusados ​​têm conhecimento da incitação e do apoio de Machado à prática de crimes internacionais pelos Estados Unidos” e, portanto, “sabiam ou deveriam saber que a distribuição do dinheiro do Prêmio Nobel contribuiria para execuções extrajudiciais de civis e sobreviventes de naufrágios no mar”. A vende-pátria venezuelana, condenou o fundador do WikiLeaks, “continua a incitar o governo Trump a seguir seu caminho de escalada”, apoiando ações como a apreensão de petroleiros e uma maior presença militar no Caribe. A escalada belicista iniciou em agosto no Caribe e no Pacífico com mais de 15 mil militares, incluindo o porta-aviões Gerald Ford, o bombardeamento e o assassinato de pescadores a pretexto de combate ao “narcotráfico”.  

“A dotação do Prêmio Nobel da Paz não pode ser usada para promover a guerra”, reiterou Assange, acrescentando que a fundação tem a obrigação de “garantir o cumprimento do propósito estipulado no testamento de seu fundador”, que, reiterou, é “acabar com as guerras e os crimes em conflitos, e não facilitá-los”.

Segundo Assange, diante do risco real de que os fundos do Nobel tenham sido desviados de sua finalidade beneficente “para facilitar agressões, crimes contra a humanidade e crimes de guerra”, é preciso que as autoridades suecas congelem “imediatamente” a transferência pendente do prêmio em dinheiro e garantam “a devolução da medalha”.

Para que tais medidas sejam adotadas, o fundador do WikiLeaks citou ainda na sua queixa as obrigações da Suécia nos termos do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI). Ele solicita medidas que incluem o congelamento dos fundos restantes dos prêmios, a apreensão das atas e comunicações do conselho, o interrogatório de indivíduos nomeados e uma investigação completa, seja internamente ou pelo TPI.

Até o momento, não houve resposta ou comentário da Fundação Nobel ou do Comitê Nobel Norueguês sobre a denúncia de Assange. 

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