“Não vou me render à extradição por fazer jornalismo que ganhou muitos, muitos prêmios e protegeu muitas pessoas”, afirmou o jornalista e fundador do WikiLeaks, Julian Assange, a um tribunal inglês, por videoconferência, desde o presídio de segurança máxima em que foi jogado depois de arrancado à força da embaixada do Equador.
Na quinta-feira (2) na porta da corte de Westminster, manifestantes repudiaram a perseguição ao jornalista e exigiram que não seja extraditado.
A altiva resposta de Assange foi decorrência da pergunta, feita pelo tribunal-farsa, se ele aceitava a extradição. Agora, haverá duas novas audiências sobre a questão, uma no dia 30 de maio, e outra no dia 12 de junho.
A audiência foi realizada no dia seguinte a que o jornalista foi sentenciado a quase um ano de detenção por ter pedido asilo, uma pena infame e que evidencia todo o servilismo britânico em relação a Washington.
Falando a repórteres logo após a condenação de Assange por ‘violação de fiança’, o atual editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, advertiu que o processo de extradição de Assange é “vida e morte” para ele e para o próprio jornalismo.
Hrafnsson assinalou que a desmedida sentença causou “choque e indignação” e “não aumenta nossa fé no sistema judicial do Reino Unido”. A “batalha real” – acrescentou -, no entanto, ainda está à frente: as audiências de extradição.
Como apontou o editor do WikiLeaks, a audiência desta quinta-feira é “o primeiro passo em uma longa batalha, então a luta certamente continuará”. Como sempre afirmamos – acrescentou – “esta é principalmente a luta pela liberdade de imprensa”.
“Essa é uma verdadeira batalha, não é só para Julian Assange – embora para ele seja uma questão de vida ou morte – é certamente uma questão determinante [sobre] um importante princípio jornalístico”, enfatizou Hrafnsson.
“Se a extradição for bem-sucedida, estabeleceria um precedente muito perigoso e, depois disso, nenhum jornalista estaria seguro”, ressaltou.
Para facilitar a farsa judicial contra Assange e a aprovação do pedido de extradição, por enquanto o jornalista está sendo acusado de supostamente ter tentado ajudar o denunciante Chelsea Manning a quebrar uma senha para desvendar os arquivos dos malfeitos do Departamento de Estado, o que implicaria em uma pena no máximo de cinco anos.
No entanto, o processo secreto vem sendo tocado há anos e a avaliação geral é de que haverá novas acusações, inclusive de “espionagem”, colocando-o sob risco de condenação à morte ou prisão perpétua. Foi o governo Obama que desencavou uma lei do início do século passado, sem uso, para perseguir jornalistas e denunciantes por ‘espionagem’.
O que está ocorrendo neste momento já vinha sendo denunciado há anos pelo WikiLeaks e por numerosas personalidades: que existia um processo secreto contra o jornalista e que Washington queria a todo custo a extradição de Assange por ter exposto, junto com os maiores jornais do mundo, os crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão, bem como a indecorosa interferência do Departamento de Estado nos assuntos internos de outros países.
Assim, junto com a prisão de Assange dentro da embaixada – havia sido entregue pelo regime de Moreno – veio a revelação que, além da desculpa esfarrapada da ‘violação de fiança’, havia o pedido de extradição vindo de Washington. Poucos dias antes da prisão de Assange, Manning foi preso por se negar a mentir para incriminar o jornalista.
Como Assange afirmou à corte, o que o WikiLeaks fez foi jornalismo muito, muito premiado – e acompanhado pelos principais jornais do mundo – ao revelar e divulgar as atrocidades cometidas na invasão do Iraque e do Afeganistão, com a publicação de numerosos arquivos e o famoso vídeo do “Assassinato Colateral”, o do massacre de civis, dois jornalistas da Reuters inclusos, por um helicóptero Apache, operando sob instruções do comando operacional.
O ódio do establishment contra o jornalista era tamanho, que a então secretária de Estado, Hillary Clinton, chegou a sugerir silenciá-lo “com um drone”.
Vitorioso Trump, o então diretor da CIA, Mike Pompeo, chamou o WikiLeaks de “agência de inteligência hostil não-estatal” e disse que não estaria coberta pela Primeira Emenda da constituição norte-americana, a que assegura a liberdade de expressão.
Quando da condenação de Manning a 35 anos de prisão, depois de quase um ano sob confinamento em solitária e tortura, o respeitado Centro pelos Direitos Constitucionais (CCR, na sigla em inglês) chamara o julgamento de “ataque frontal” à Primeira Emenda.
“É uma paródia da Justiça que o fato de que Manning – que ajudou a trazer à tona a criminalidade das forças dos EUA no Iraque e Afeganistão – esteja sendo punido, enquanto os autores dos crimes que ele expôs não são sequer investigados”.
O CCR disse ainda sentir medo “pelo futuro deste país na sequência deste caso”. O que foi dito sobre a condenação de Manning, agora se repete em relação a Assange, numa proporção maior.
Se o criminoso establishment de Washington puder a seu bel prazer sequestrar jornalistas que exponham os crimes do império, ainda mais, jornalistas estrangeiros, e por denúncias divulgadas desde outros países, não vai haver limite para a censura que Pentágono e CIA tentam impor.
A.P.