“Em toda a minha vida, nenhum jornalismo investigativo pode se igualar à importância do que o WikiLeaks fez ao convocar o poder para prestar contas. É como se a moral unilateral do imperialismo das democracias liberais tivesse sido revelada: o compromisso total com a guerra sem fim”, afirmou o jornalista e documentarista australiano, John Pilger, que participou de um ato para exigir a intervenção do governo australiano em favor do fundador do site, Julian Assange, que está preso em Londres.
“É por isso que Assange está em perigo mortal”, denunciou, durante o protesto, realizado, na terça-feira (19), diante da embaixada australiana da Nova Zelândia, em Wellington, capital do país.
Durante a abertura da atividade, as lideranças e manifestantes presentes denunciaram as violações do governo inglês contra o direito internacional, ao não permitir o trânsito de Assange da embaixada equatoriana para fora do país. Conjuntamente, expuseram que a perseguição perpetrada pelo governo inglês a Assange tem por motivação o acobertamento dos crimes dos EUA. Os ativistas e líderes presentes repudiaram as tentativas de extraditá-lo para território estadunidense, onde, mesmo sem ser cidadão norte-americano, pode ser julgado e punido por ‘traição’, e dessa forma, condenado até mesmo à morte, quando a acusação que pesa contra ele é a de haver divulgado ao mundo, em documentos autênticos publicados por seu site, os crimes dos EUA.
Em seu discurso, Pilger, que no início de junho lançou uma campanha mundial pela liberdade de Assange e participou recentemente de ato ao lado do mais famoso dos integrantes da banda Pink Floyd, Roger Waters, afirmou que a “perseguição deve terminar” sob o risco de resultar “em tragédia”, conforme relatos do próprio pai de Assange em carta destinada ao primeiro-ministro australiano, e que Assange deve ser solto pois “o que ele fez foi expor os ataques de governos norte-americanos às leis internacionais”.
Para o documentarista, o governo de seu país, encabeçado pelo primeiro-ministro Malcolm Turnbull, têm em mãos uma encruzilhada histórica: “agir em favor da justiça e da humanidade, trazendo esse notável cidadão australiano para casa”, ou “permanecer em silêncio”, o que resultará no julgamento “implacável” da “história”.
“Nós sabemos com base no caso de Chelsea Manning o que ele pode esperar se um mandado de extradição dos EUA for bem-sucedido”. A essa possibilidade, “um relator especial da ONU chamou de tortura”.
“Eu conheço bem Julian Assange. Observei um tsunami de mentiras e difamações engolfando-o, infinita, vingativa e perfidamente. Eu sei porque eles o caluniam”.
Para contrastar os feitos de Assange, a ordem ideológica, econômica e política defendida pela mídia em geral, Pilger recordou de uma reportagem feita pela rede de TV australiana ABC, onde a jornalista Sarah Ferguson entrevistou uma notória envolvida nos crimes denunciados por Assange, a então Secretaria de Estado, Hillary Clinton, a quem a jornalista definiu como “o ícone de sua geração”.
Nesse sentido, o documentarista apontou que foi Hillary quem não só “ameaçou ‘obliterar totalmente’ o Irã” em 2011, como “esteve entre os instigadores da invasão e destruição da Líbia”, uma guerra que assim como invasão do Iraque, “foi baseada em mentiras”.
“Quando o presidente líbio foi assassinado publicamente, Clinton foi filmada gritando e aplaudindo. Graças principalmente a ela, a Líbia se tornou um terreno fértil para os terroristas. Graças principalmente a ela, dezenas de milhares de refugiados arriscam suas vidas na travessia do Mediterrâneo”. Por outro lado, nada foi dito na entrevista sobre os milhões de dólares recebidos por Hillary, da Arábia Saudita e Catar, notórios apoiadores dos bandos que barbarizam a anos por grande parte do território sírio. Ou mesmo sobre sua participação na venda de US$ 80 bilhões em armas à Arábia Saudita, que hoje opera um genocídio no Iêmen.
Ao invés de tratar desses escândalos, a jornalista “pediu que ela descrevesse o ‘dano pessoal’” que Julian Assange causou, ao que Hillary respondeu: “ele é uma ferramenta da inteligência russa”. Em meio a suas afirmações, Hillary não ofereceu nenhuma prova, a jornalista também não achou que provas eram necessárias, e a Assange não foi oferecido o direito de resposta.
Da mesma forma, o jornal The Guardian, “dirige seus ataques pessoais e covardes a um homem de cujo trabalho já havia se beneficiado”.
“Julian Assange não cometeu nenhum crime. Ele nunca foi acusado por nenhum crime. O episódio sueco foi falso e ridículo, e ele foi inocentado”. Para Pilger, “as alegações contra Assange são uma cortina de fumaça” utilizada por vários governos “para reprimir o WikiLeaks”.
“O WikiLeaks nos permitiu vislumbrar como funciona a jogatina imperial do século XXI”, acrescentando que “as tropas de choque desse império são os integrantes da mídia alistada – aqueles que deveriam fornecer as informações diretas e nos contar a verdade. A ironia é que ninguém obrigou estes jornalistas a fazer o que fazem. Eu os chamo de jornalistas Vichy, similares aos governo de Vichy que serviu e colaborou com a ocupação alemã da França.
Ele denunciou também o atual governo equatoriano de Lenin Moreno por cortar o acesso de Assange à Internet e a outras formas de comunicação e por tentar negociar a entrega de Assange ao governo dos Estados Unidos.
Após a abertura, a manifestação seguiu da embaixada australiana para as embaixadas inglesa e norte-americana.
GABRIEL CRUZ