
A Polícia Civil investiga se o assassinato de dois indígenas no Maranhão tem relação com os conflitos envolvendo madeireiros na Terra Indígena (TI) Arariboia. Na madrugada do último sábado (3), Janildo Oliveira Guajajara foi assassinado com tiros pelas costas, enquanto Israel Carlos Miranda Guajajara foi atropelado na região da Terra Indígena Arariboia.
Um adolescente, baleado durante a ação que resultou na morte de Janildo, encontra-se hospitalizado. Os três são da Terra Indígena Arariboia.
O jovem de 14 anos, que não teve o nome revelado por motivo de segurança, encontra-se hospitalizado em uma unida de saúde na região, que também não teve o nome revelado pelo mesmo motivo.
Não há informações, até o momento, sobre o seu estado de saúde. Os indígenas temem que haja uma nova tentativa contra a vida do adolescente.
Janildo Gajajara foi alvejado em Amarante do Maranhão. Já no município de Arame, Israel Carlos Miranda Guajajara, de 34 anos, morreu após ser atropelado.
Os dois casos estão sendo tratados inicialmente como homicídios dolosos (quando há a intenção de matar) pela Polícia Civil, mas as investigações são preliminares e testemunhas serão ouvidas.
Após a coleta das primeiras informações, o caso deverá ser repassado para a Polícia Federal, já que se trata de mortes de guajajaras nos arredores de uma terra indígena.
Janildo Guajajara atuava desde 2018 junto aos Guardiões da Floresta, grupo de agentes florestas indígenas, com autonomia de gestão do território e suas formas próprias de organização. O grupo atua na defesa contra invasores, em uma aldeia próxima.
Desde a criação dos Guardiões em 2007, 32 ramais madeireiros foram fechados. “Desde então, ele e outros guardiões da região sofrem ameaças constantes e cada vez mais as ameaças se intensificam”, denunciam os indígenas.
Preocupados com a enorme presença de madeireiros, caçadores e outros invasores, indígenas do povo Guajajara o grupo foi fundado para realizar monitoramento territorial e coibir as ações ilegais no interior da TI.
Desde então, seis guardiões já foram assassinados, em represália contra as ações em defesa do território.
Na madrugada do mesmo dia (3), no município de Arame (MA), Jael Carlos Miranda Guajajara, de 34 anos, também foi morto.
Informações iniciais apontam que a morte teria sido por atropelamento, porém o povo Guajajara suspeita que se trata de outro assassinato.
“Os três casos evidenciam a escalada da violência que os indígenas no estado já vinham denunciando. Entre 2003 e 2021, foram registrados 50 assassinatos de indígenas do povo Guajajara”, informa o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
MAIS DE 50 ASSASSINATOS
Entre 2003 e 2021, a plataforma Caci, que sistematiza os casos registrados pelo relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, do Cimi, registrou 50 assassinatos de indígenas do povo Guajajara no Maranhão; destes, 21 eram indígenas da TI Arariboia.
Em nota, os Guardiões da Floresta ressaltaram que o grupo seguirá firme na defesa e proteção do seu território, mesmo sob ameaças. “Por todos esses anos fizemos e continuaremos a fazer a proteção territorial mesmo sendo ameaçados e mortos”.
“Somos contrários a violência que mata e destrói, por isso lutamos pela vida”. “Por todos esses anos fizemos e continuaremos a fazer a proteção territorial mesmo sendo ameaçados e mortos”.
Ante a impunidade nos casos de violência contra os indígenas no Maranhão, esses povos têm questionado quais as ações de órgãos como a Polícia Federal, as Secretarias de Segurança Pública e Direitos Humanos e Participação Popular, juntamente com a Força Tarefa de Proteção à Vida Indígena (FT Vida), e as Delegacias Regionais de Arame e Amarante, têm adotado para coibir e punir os responsáveis por estes crimes.
“O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, como aliado, se solidariza mais uma vez com as famílias enlutadas e exige justiça para esses assassinatos”, diz diz o Conselho, em nota.
“ Reforçamos a necessidade de mais segurança nos territórios indígenas e mais ações do poder público que venham coibir o derramamento de sangue nas comunidades indígenas”, destaca o Cimi regional.