Peças dos M16 vinham do exterior e chegavam na casa de Lessa no condomínio Vivendas da Barra, o mesmo de Bolsonaro
A Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil do Rio de Janeiro encontrou 117 fuzis modelo M16 incompletos, no Méier, na Zona Norte do Rio, na casa de um amigo do policial militar Ronnie Lessa, autor dos 13 tiros que mataram a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e o motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018.
As armas, todas novas, estavam desmontadas em caixas em vários cômodos da casa, faltando apenas os canos.
Segundo o secretário de Polícia Civil, Marcos Vinícius Braga, esta é a maior apreensão de fuzis da história do Rio, superando inclusive a feita no aeroporto Internacional do Rio em 2017. Na ocasião, foram encontradas 60 armas vindas dos EUA dentro de aquecedores de piscinas. Em 2019, a PM apreendeu, de 1º de janeiro até esta segunda, 100 fuzis.
“Dá para fazer muito fuzil”, disse um dos agentes que participou da ação.
TRÁFICO DE ARMAS
O homem que mora no endereço do Méier, Alexandre Mota de Souza, contou que conhece Lessa desde pequeno e fala que não sabia o que havia nas caixas. Ele foi preso por suspeita de tráfico de armas.
“Eu não fiz nada, esse cara me botou de bucha, cara (…) Eu não faço a menor ideia, está tudo lacrado, eu não abri, ele falou que ia vir buscar isso (…) Eu confiei nele. Acreditei nele. Foi criado com a gente, ele morava aqui do lado, desde pequeno”, diz aos policiais. “Ainda falou para mim: ‘Só não abre as caixas’”.
Segundo os investigadores, as armas que foram apreendidas estavam desmontadas e chegavam pelo correio.
Durante a investigação dos assassinatos a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio coletaram indícios de que Lessa é traficante de armas. E-mails enviados pelo PM que fazem parte do inquérito revelam que ele comprava armas de vários países e fornecia, diversas vezes, como endereço para entrega, a casa onde morava e foi preso, no condomínio Vivendas da Barra, na Avenida Lúcio Costa, 3.100, Zona Oeste do Rio.
Em outras oportunidades, ele passava um endereço nos Estados Unidos, que usava quando viajava para o país.
Lessa tinha mais de dez armas registradas em seu nome.
Os investigadores ainda tentam descobrir como ele comprou a metralhadora MP5 usada no crime. A polícia já sabe que ele fez buscas sobre a arma, que ficaram registradas em sua “nuvem” — o que permite o acesso remoto. Depois, pesquisou silenciadores que são usados nesse tipo de arma. As buscas sobre a arma pararam após a data dos assassinatos.
Durante a operação, os investigadores também encontraram R$ 112 mil reais em espécie. Deste total, R$ 50 mil foram localizados na casa dos pais de Lessa e R$ 62 mil no próprio carro do PM. Também foram apreendidos 500 munições e três silenciadores.