O ex-funcionário da Ajudância de Ordens de Bolsonaro, Jairo Moreira da Silva, confirmou à Polícia Federal que foi enviado, em dezembro de 2022, de Brasília para Guarulhos para retirar ilegalmente as joias do então presidente sob ordem vinda do gabinete de Jair Bolsonaro.
A ordem, contou, lhe foi transmitida através do tenente Cleiton Henrique Holzschuk, que era assessor do tenente-coronel Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência da República e amigo pessoal de Jair Bolsonaro.
Jairo Moreira da Silva disse que recebeu a ordem de “pegar alguns presentes que estavam retidos na alfândega” no dia 28 de dezembro, enquanto a viagem deveria acontecer no dia seguinte.
Para cumprir a missão, Jairo recebeu o “ofício 736/2022” no intento de conseguir a liberação das joias. O ofício, assinado por Mauro Cid e endereçado ao então chefe da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes, pedia a liberação das joias e dava o nome de Jairo como receptor.
As peças não foram entregues porque o servidor da alfândega não topou participar da irregularidade.
Quando percebeu que não conseguiria a liberação das joias de Bolsonaro, telefonou para Cleiton Henrique Holzschuk, que o orientou a telefonar diretamente para Mauro Cid, o ajudante de ordens de Jair.
Logo depois que falou com Cid, recebeu uma ligação de um funcionário da Receita Federal, do qual Jairo Moreira diz não lembrar o nome.
“O depoente também recebeu ligação de alguém da Receita Federal, cujo nome não recorda nem se ele falou o cargo que ocupava. Que essa pessoa da Receita Federal que ligou, perguntou o que estava acontecendo. O depoente explicou os documentos que faltavam de acordo com o que tinha entendido, e ele fala para o depoente aguardar”, relatou à PF.
Pela gravação do encontro entre Jairo e o auditor da alfândega de Guarulhos, essa pessoa da Receita pode ter sido o próprio chefe do órgão, Julio Cesar Vieira de Oliveira.
Pelo menos três pacotes de joias foram dados de “presente” da família real da Arábia Saudita para Jair Bolsonaro.
Dois foram trazidos para o Brasil pelo ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, sendo que um destes foi percebido e apreendido pela Receita Federal pelo alto valor, não foi declarado e não houve pagamento de impostos. O segundo pacote passou desapercebido e Bolsonaro se apropriou dele.
O pacote apreendido continha um relógio, destinado a Bolsonaro, um colar, um anel e um par de brincos, destinados à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, sendo todas as peças cravejadas de diamantes. Havia também uma escultura de cavalo dourada. O valor total é estimado em R$ 16,5 milhões.
O terceiro pacote foi entregue pelos sauditas diretamente para Jair Bolsonaro. O valor do estojo, composto por um relógio Rolex cravejado de diamantes, uma caneta da Chopard, um par de abotoaduras em ouro branco, um anel em ouro branco e um rosário árabe, é estimado em R$ 500 mil.