O ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), Fabrício José Carlos Queiroz, não compareceu ao depoimento no Ministério Público Estadual do Rio (MP-RJ), onde era esperado na tarde desta quarta-feira (19) para explicar a origem do R$1,2 milhão detectado em sua conta bancária pelo Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate a crimes financeiros.
Seu nome aparece em relatório do Coaf anexado à investigação que resultou na Operação Furna da Onça, um desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro que prendeu dez deputados estaduais por corrupção. A informação do não comparecimento de Queiroz foi dada aos jornalistas pelo procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem.
Os advogados de Queiroz justificaram sua ausência ao órgão por conta de uma “inesperada crise de saúde”. O depoimento foi remarcado pela para sexta-feira (21), a partir das 14h. O filho de Bolsonaro tinha tentado tirar o corpo fora na terça-feira (18), dizendo que as explicações sobre as movimentações suspeitas, que chegaram a R$ 1,2 milhão, quem tinha que dar era Queiroz. “Quem tem que dar explicação é o meu ex-assessor, não sou eu. A movimentação atípica é na conta dele. “Todo mundo trabalhava [no meu gabinete]. Aqui não é quartel, nada impede a pessoa ter uma outra atividade. Não tem problema nenhum. No quartel é que bate ponto, entra tal hora, sai tal hora”, disse ele, antes da cerimônia de diplomação dos candidatos eleitos no Rio de Janeiro.
A declaração de Flávio Bolsonaro de que em seu gabinete todo mundo trabalha é um completo desaforo ao MPRJ. Um dos funcionários de seu gabinete, Wellington Servulo Romano da Silva, nem mesmo morava no Brasil e recebia salário do gabinete. Ele residia, e continua a residir, em Portugal, mas recebe salários do gabinete de Flávio. Parte do que ele ganhava misteriosamente aparecia na conta de Queiroz. Perguntado, Flávio disse que não sabia que ele morava em Portugal.
Outra “funcionária”, Nathalia Queiroz, por coincidência, filha de Fabrício, foi nomeada por Flávio para a Alerj aos 18 anos. Fez toda a faculdade de Educação Física e trabalhou como recepcionista em horário comercial, com carteira assinada, numa academia do Rio de Janeiro ao mesmo tempo em que recebia salário pelo gabinete de Flávio.
O relatório do Coaf mostra que Nathalia Queiroz repassou para a conta do pai, dependendo do mês, entre 72,23% e 99% do que recebeu da Alerj. A esposa de Fabrício Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, também contratada por Flávio Bolsonaro pela Alerj, repassou entre 31% e 46% – dependendo do mês – para a conta do marido. Outra funcionária, Luiza Souza Paes, transferiu entre 24,8% e 33,5% do seu salário para a conta de Queiroz.
Além disso, 57% dos depósitos feitos na conta de Fabrício Queiroz ocorreram no dia do pagamento dos salários na Alerj ou até três dias úteis depois (cf. Wilson Tosta, Constança Rezende e Fabio Serapião, Funcionários de Flávio Bolsonaro repassaram até 99% dos salários, OESP 15/12/2018).
Fabrício Queiroz era cupincha de Jair Bolsonaro. Os dois serviram juntos no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, em 1984. O relatório do Coaf revelou que ele recebia depósitos sistemáticos de nove funcionários lotados no gabinete de Flávio Bolsonaro. Assim que recebia os depósitos, ele fazia saques em espécie em diversas agências bancárias do Rio de Janeiro. Esquemas como este, em que funcionários fantasmas repassam salários para os deputados, estão sendo investigados pela Operação Furna da Onça, e teriam movimentado R$ 200 milhões.
Toda a família de Queiroz estava lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro. Quando sua filha, Nathalia, foi exonerada da Alerj, no mesmo dia, ela foi nomeada como Secretária Parlamentar no gabinete do deputado federal Jair Bolsonaro, em Brasília. Por quase dois anos, Nathalia Queiroz recebeu salário de cerca de R$ 10 mil pela Câmara Federal sem comparecer ao gabinete. Ela permaneceu no Rio de Janeiro exercendo sua profissão de personal trainer. Vários clientes de Nat Queiroz, como ela era conhecida, não sabiam que ela era secretamente lotada na Câmara Federal. Um depósito suspeito de R$ 84 mil feito por ela na conta de seu pai foi detectado pelo Coaf.
Ainda conforme o relatório, o ex-assessor repassou R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro, futura primeira-dama. Sobre este pagamento, o presidente eleito afirmou que era a quitação de um empréstimo de R$ 40 mil feito por ele a Queiroz. Bolsonaro só não explicou porque precisou fazer um empréstimo a um funcionário que movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta e também por que não declarou ao Imposto de Renda o dinheiro recebido.
Depois que a denúncia do Coaf veio à tona, os “funcionários” de Flávio Bolsonaro sumiram. Nathalia apagou suas redes sociais, Queiroz não apareceu em lugar nenhum e, agora, foge do Ministério Público. Se enganam se pensam que vão escapar da Justiça. O MPRJ está no encalço dos responsáveis pelo desvio milionário de dinheiro público. Queiroz prestava serviços para a família Bolsonaro. Ele terá que explicar de onde veio o dinheiro movimentado em sua conta. O país inteiro espera por essa explicação.
Flávio Bolsonaro diz que não sabia que seu funcionário era fantasma e morava em Portugal