O ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL) Fabrício José Carlos Queiroz, que foi flagrado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeira (Coaf) com movimentação financeira de R$ 1,2 milhão, zombou mais uma vez do Ministério Público do Rio de Janeiro e não compareceu ao órgão pela segunda vez para prestar esclarecimentos. Ele já havia faltado na quarta-feira por uma “inesperada crise de saúde” e o depoimento tinha sido adiado para esta sexta-feira (21). A alegação apresentada foi de que o investigado precisou se internar para tratamento. O advogado não apresentou atestado de internação.
O advogado do investigado compareceu à sede do MP, às 14h, para informar que seu cliente “precisou ser internado na data de hoje para a realização de um procedimento invasivo com anestesia, o que será devidamente comprovado, posteriormente, através dos respectivos laudos médicos”. Queiroz está desaparecido desde que a denúncia foi feita pelo Coaf. Ele dirigia um esquema de funcionários fantasmas nos gabinetes da família Bolsonaro, tanto na Assembleia Legislativa do Rio quanto na Câmara Federal, que lavava dinheiro obtido através da transferência de salários dos fantasmas para o bolso dos parlamentares.
O MP-RJ afirmou que será enviado ofício ao presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) solicitando o comparecimento do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro, no dia 10 de janeiro, para que ele preste esclarecimentos sobre os fatos. Flávio Bolsonaro vem se esquivando e afirma que não tinha o que comentar sobre o assunto e que quem deveria responder é o ex-assessor.
Fabrício Queiroz era cupincha de Jair Bolsonaro. Os dois serviram juntos no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, em 1984. O relatório do Coaf revelou que ele recebia depósitos sistemáticos de nove funcionários lotados no gabinete de Flávio Bolsonaro. Assim que recebia os depósitos, ele fazia saques em espécie em diversas agências bancárias do Rio de Janeiro.
Esquemas como este, em que funcionários fantasmas repassam salários para os deputados, estão sendo investigados pela Operação Furna da Onça, e teriam movimentado R$ 200 milhões.
Toda a família de Queiroz estava lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro. Quando sua filha, Nathalia, foi exonerada da Alerj, no mesmo dia, ela foi nomeada como Secretária Parlamentar no gabinete do deputado federal Jair Bolsonaro, em Brasília. Por quase dois anos, Nathalia Queiroz recebeu salário de cerca de R$ 10 mil pela Câmara Federal sem comparecer ao gabinete. Ela permaneceu no Rio de Janeiro exercendo sua profissão de personal trainer. Vários clientes de Nat Queiroz, como ela era conhecida, não sabiam que ela era secretamente lotada na Câmara Federal. Um depósito suspeito de R$ 84 mil feito por ela na conta de seu pai foi detectado pelo Coaf.
Ainda conforme o relatório, o ex-assessor repassou R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro, futura primeira-dama. Sobre este pagamento, o presidente eleito afirmou que era a quitação de um empréstimo de R$ 40 mil feito por ele a Queiroz. Bolsonaro só não explicou porque precisou fazer um empréstimo a um funcionário que movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta e também por que não declarou ao Imposto de Renda o dinheiro recebido.
Depois que a denúncia do Coaf veio à tona, os “funcionários” de Flávio Bolsonaro sumiram. Nathalia apagou suas redes sociais, Queiroz não apareceu em lugar nenhum e, agora, foge do Ministério Público. Se enganam se pensam que vão escapar da Justiça. O MPRJ está no encalço dos responsáveis pelo desvio milionário de dinheiro público. Queiroz prestava serviços para a família Bolsonaro. Por mais que ele fuja, terá que explicar de onde veio o dinheiro movimentado em sua conta. O MPE e o país inteiro esperam por essa explicação.
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