Aurélio Valporto, presidente da Abradin, informa que enviou ao ministro Vital do Rego documentos que comprovam que a Eletrobrás está subavaliada em cerca de dez vezes. Acionistas minoritários e União perdem. A população perde duas vezes, com a desvalorização de seu patrimônio e com a alta das tarifas que virão em seguida à venda
O presidente da Associação Brasileira de Investidores Minoritários em Empresas de Capital Aberto (Abradin), Aurélio Valporto, informa ao HP que enviou ao ministro Vital do Rêgo, do TCU, documentos que comprovam que a Eletrobrás está subavaliada e que, se vendida ao preço proposto pelo governo seria uma verdadeiro golpe contra os atuais acionistas, tanto os minoritários, associados da Abradin como o majoritário, a própria União.
DESTA FORMA SERÁ UM GOLPE CONTRA OS ACIONISTAS, CONSUMIDORES E O PAÍS
Seria, portanto, segundo Valporto, “um roubo tanto aos seus associados, acionistas da empresa, como a toda a população Brasileira que é a maior acionista da Eletrobrás através da União”. “Em se concretizando este cenário, a população brasileira perde duas vezes, primeiro entregando ‘a preço de banana’ seu patrimônio, a Eletrobrás, depois mediante aumento de tarifa para vir a remunerar um patrimônio que era seu! Isso não pode ser permitido”, avalia o economista.
O presidente da entidade explica qual é o problema: “É que os ativos da empresa estariam sub avaliados, e quem comprar vai pedir essa reavaliação depois de adquirir a empresa, e uma vez reavaliados, poderão pedir enorme aumento de tarifa sob a alegação de que, como os ativos valem muito mais, a tarifa atual não os remunera”, diz ele.
Valporto destaca que “não é a primeira vez que a Abradin se interpõe a interesses de venda de grandes empresas proposta pelo atual governo”. “Logo no início do governo Bolsonaro houve a tentativa de vender a Embraer à Boeing, a alegação do Ministério da economia é que a empresa não tinha como sobreviver em um mercado cada vez mais competitivo. A Abradin alegou fraude contra os investidores e recorreu até na União Europeia contra o negócio, que acabou não se concretizando”, obervou.
“Hoje a Embraer é a terceira maior fabricante de aviões do mundo e está a entre as mais lucrativas empresas brasileiras, suas ações quintuplicaram de preço dede o cancelamento de sua venda à Boeing. Estamos demonstrando que a Abradin está com a razão novamente na defesa dos interesses dos atuais investidores da Eletrobrás”, acrescentou o dirigente da entidade.
“ATIVOS OCULTOS” SERÃO REPASSADOS PARA AS TARIFAS
“Ou o ministério da economia foi muito inocente propondo o atual valor de venda ou tem gente ali com interesses inconfessáveis”, denunciou o dirigente da Abradin. “Como o valor dos ativos é muito inferior ao que foi contabilizado, a remuneração sobre os mesmos previstos nos contratos de concessão, também foi muito inferior. Então essa remuneração não paga também pode ser tratada como ativo oculto adicional. E esse é um problema não previsto que pode ter consequências econômicas graves”, prossegue Valporto.
Ele mesmo explica quais são essas consequências. “A nova administração pode pedir aumento de tarifa com base no argumento de que as tarifas aplicadas não remuneraram os investimentos em seus ativos. E esse é um ponto chave. De enorme interesse para a economia nacional”, prossegue a Abradin.
INTERESSES INCOFESSÁVEIS
“Como não está vedado expressamente qualquer pedido de aumento de tarifa com base em eventual reavaliação de ativos, a população certamente pagará um preço alto pela venda da Eletrobrás. Quem é a favor da venda segundo os valores propostos pelo governo, ou são ingênuos ou possuem interesses inconfessáveis”, diz Valporto.
Caso a empresa seja vendida com esse preço irrisório, prossegue Valporto, “o golpe contra os atuais acionistas seria o seguinte: os novos acionistas compram, com quantidade reduzida de recursos, uma enorme parcela da companhia, depois pedem reavaliação dos ativos, que estão ocultos, com isso a empresa multiplica em até por dez o seu valor; com base nos novos valores dos ativos a empresa alega que os mesmos não foram remunerados e pede aumento tarifa”.
A tabela acima, feita pelo assessor da Abradin para o setor elétrico – o doutor em economia, engenheiro eletricista e ex-conselheiro da Eletrobrás, Manuel Jeremias Leite Caldas – dá ideia dos valores ocultos (escondidos) por ativo, tanto por expurgo de correção monetária aplicada aos ativos, mas não aos passivos, como por erro na amortização.
SÉRGIO CRUZ