Presidente da Associação de Municípios, Patricio Maldonado, cobra do presidente equatoriano “justiça, segurança e paz”. “Não é justo que o trabalho para nossas cidades se torne um risco para nossas vidas e famílias”, enfatizou
O assassinato de Eber Ponce, prefeito de Arenillas, no último sábado (11), foi respondido com uma onda de protestos pelo Equador contra o governo de Noboa e sua política repressiva no chamado “conflito armado interno”. O prefeito foi baleado por um motociclista com cinco tiros enquanto dirigia, num atentado que deixou outras três pessoas feridas, incluindo seu filho, menor de idade.
“Que isso não fique impune. Perdemos um grande líder e agora estamos órfãos como povo”, afirmava a faixa ao lado do caixão de Eber Ponce, recebido por uma caravana.
O presidente da Associação de Municípios do Equador (AME), Patricio Maldonado, repudiou de imediato o crime e exigiu de Noboa “justiça, segurança e paz”. “Não é justo que o trabalho para as nossas cidades se torne um risco para as nossas vidas e das nossas famílias. Isto nos magoa e nos enche de indignação”, acrescentou.
De acordo com Maldonado, desde a instituição que preside será feito “todo o necessário” para que o caso “não fique impune” e para que “os governos locais possam trabalhar sem medo”.
O prefeito de Santa Rosa, Larry Vite, município vizinho, também condenou a barbárie e conclamou a todos os moradores que se mantenham “mais unidos do que nunca”. “É incrível o que estamos vivendo novamente”, apontou, diante da escalada de horrores que antecedem a eleição presidencial de 9 de fevereiro.
Em 2024, três prefeitos foram brutalmente assassinados no país: Brigitte García, de San Vicente, na província costeira de Manabí, em marzo; José Sánchez, de Camilo Ponce Enríquez, na província andina de Azuay, e Jorge Maldonado, de Portovelo, de El Oro, próximo a Arenillas.
INSEGURANÇA, TERROR E MENTIRAS DE NOBOA
Apesar de toda manipulação sobre uma hipotética redução na criminalidade, divulgada pelo Ministério da Justiça, que atua como uma caixa de ressonância da campanha de Noboa pela reeleição – ao lado de quase totalidade da mídia – a verdade continua saltando aos olhos.
No último dia de 2024, um exame antropológico e de DNA identificou os corpos incinerados dos irmãos Josué (14 anos) e Ismael Arroyo (15), Nehemias Arboleda (15) e Steve Gerald (de apenas 11), da comunidade pobre de Malvinas, os “Quatro de Guayaquil”, encontrados na base aérea de Taura.
No caso dos Quatro, após não retornarem para casa, um dos filhos conseguiu falar com o pai, Luis Arroyo. Suas últimas palavras dão a dimensão do terror: “Os militares nos pegaram, espancaram, estão nos acusando de roubo e nos prenderam. Por favor, venha me salvar”.
Os meninos haviam sido detidos por uma patrulha militar depois de terem passado pela padaria após o jogo de futebol no sul de Guayaquil, em 8 de dezembro, “para nunca mais voltar”, denunciou a advogada Angélica Porras, da Ação Jurídica Popular, entidade que defende os direitos constitucionais da população.
Angélica esclareceu que “a desaparição foi em 8 de dezembro e o pai de família de Josué e Ismael fez a denúncia no mesmo dia”. “Mas tudo isso permaneceu ocultíssimo durante 13 dias. Isso só começou a se tornar problema para o governo quando é encontrado um vídeo que mostra militares, armados até os dentes, agarrando um menino e jogando na parte de trás da camionete, onde um soldado coloca o joelho no peito da criança. Ali há outro menino com short e camiseta em meio a todos aqueles militares com armas gigantes, numa desproporção absoluta”, condenou.
Após a captura, sem qualquer antecedente, eles foram torturados, assassinados, encharcados de gasolina e incendiados antes de serem lançados no rio Taura, a 16 quilômetros do local de sua apreensão.
O juiz que apurou as circunstâncias havia ordenado a prisão preventiva dos 16 militares dessa patrulha sob a acusação de desaparecimento forçado. Agora, o crime pelo qual serão processados penalmente será o de execução extrajudicial.
Assim, em vez dos tradicionais desejos de um bom ano de 2025, numerosas personalidades, dirigentes sociais, políticos e defensores dos direitos humanos uniram-se aos protestos contra a catastrófica situação de insegurança e terror vigente sob o tacão de Noboa. Dias antes, o presidente magnata havia declarado os militares como “heróis nacionais”, pois, segundo Antônio, tio de Josué e Ismael Arroyo, ele “já sabia que estavam mortos após a tortura”.
Com eleições marcadas para o próximo dia 9 de fevereiro, Noboa busca a reeleição fazendo uso da censura à oposição e abuso de acordos políticos, financeiros e midiáticos com os Estados Unidos. Nas “negociações”, vale tudo: da entrega do estratégico arquipélago de Galápagos, para ser convertido em base militar dos EUA, à privatização de empresas estratégicas – elétrica e petrolífera – ou acordos de “segurança” que permitem a penetração de tropas e instrutores estadunidenses, numa clara agressão à soberania nacional.
O resultado se vê claramente no crescimento da violência, para desespero da população.