
Nas primeiras horas desta sexta-feira (25), os taikonautas – como os chineses denominam seus astronautas – Chen Dong, Chen Zhongrui e Wang Jie, da nave Shenzhou-20, entraram na estação espacial Tianhe e se confraternizaram com o trio da Shenzhou-19, que, depois de uma estadia de seis meses a bordo, partirá de volta dentro de cinco dias, registrou a agência de notícias Xinhua.
A Shenzhou-20 é a 35ª missão de voo do programa espacial tripulado da China e a quinta missão tripulada durante o estágio de desenvolvimento da estação espacial da China. O retorno da tripulação da Shenzhou-19 – Cai Xuzhe, Song Lingdong e Wang Haoze – está programado para 29 de abril, e o local de pouso será Dongfeng, na Região Autônoma da Mongólia Interior, no norte da China.
A Shenzhou (“Nave Divina”, em chinês) decolou com sucesso do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no noroeste da China, no topo do foguete transportador Longa Marcha-2F às 17h17 de quinta-feira. Após um voo de cerca de 10 minutos, a espaçonave tripulada Shenzhou-20 se separou com sucesso do foguete e entrou na órbita designada.
O encontro automatizado e acoplamento com a porta radial do módulo central da estação espacial ocorreu cerca de 6h30 depois, de acordo com Lin Xiqiang, porta-voz da Agência Espacial Tripulada da China (CMSA). Como comparação, na última entrega da cápsula norte-americana Crew Dragon na ISS, ela decolou às 20 horas de uma sexta-feira e alcançou a estação espacial pouco depois da meia noite de domingo.
A missão espacial chinesa está marcada por vários aprimoramentos. O foguete Longa Marcha 2F, que teve seu voo inaugural em 1999, passou por 32 melhorias técnicas – desde a transmissão de dados, agora pela primeira vez a uma taxa de 5Mbps, até inovações no processo de fabricação das naves e atualizações de confiabilidade.
Também o espaço de carga útil da Shenzhou foi otimizado, levando a um aumento de aproximadamente 20% na capacidade disponível.
PESQUISAS NO ESPAÇO
A missão irá realizar mais de 20 novos projetos experimentais em aeromedicina, incluindo pesquisas sobre o sistema digestivo do corpo humano, microecologia e neurocognição, para estabelecer com mais precisão métodos de proteção contra a ausência de peso, realizar alertas precoces de riscos de radiação no espaço e realizar pesquisas sobre mudanças nas características microbianas no espaço.
59 experimentos de ciência espacial e testes de tecnologia serão também conduzidos nas áreas de ciências da vida espacial, ciências físicas de microgravidade e novas tecnologias espaciais.
Mais seguro e confiável foguete da China, o Longa Marcha 2 tem 58,3 metros de altura, com dois estágios principais e quatro propulsores. Pode enviar cargas úteis de até 8,6 toneladas para a órbita baixa da Terra. A Estação Espacial, conhecida em chinês como Tiangong (“Palácio Celestial”), tem vida útil estimada em 10 a 15 anos e opera em órbita terrestre baixa (entre 340 e 450 km de altura). A estrutura pesa cerca de 100 toneladas.
A PRIMEIRA GUERRA TECNOLÓGICA
A China precisou desenvolver sua própria estação espacial após ter sua participação na ISS (a estação espacial internacional) vetada pelos EUA nos anos 2000, sob o argumento de que o país não tinha tradição de tecnologia espacial. O que provavelmente foi o primeiro ‘tiro’ da guerra tecnológica norte-americana contra o desenvolvimento chinês.
A China superou todos esses entraves e em 2019 se tornou o primeiro país a pousar uma nave no lado oculto da Lua, com a sonda automática Chang’e 4 e, no ano passado, com a Chang’e 5, pela primeira vez em 44 anos, uma carga de pedras da Lua foi trazida para a Terra, depois do pouso bem sucedido.
Em 2022, nova surpresa, um veículo robótico enviado a Marte, o Zhurong, fez uma descida controlada no planeta vermelho, na primeira tentativa, apesar de ser uma operação com a comunicação com a Terra interrompida, em razão dos oito minutos que qualquer sinal leva entre os dois planetas. O que mereceu da revista Scientific American o comentário de que se tratava da “mais recente conquista do programa espacial da China”. A China “mostrou seu espírito de luta”.
Em 2021 China e Rússia anunciaram o projeto para criar na Lua uma estação científica, aberta a todos os países.
PRIMEIRA CONSTELAÇÃO DE SATÉLITES NA ÓRBITA TERRA-LUA
A China acaba de instalar a primeira constelação de satélites do mundo operando na órbita retrógrada distante (DRO) entre a Terra e a Lua, com conexões estáveis de medição e comunicação intersatélites.
Segundo a Academia Chinesa de Ciências (ACC), constelação foi formada por três satélites lançados entre fevereiro e março de 2024, posicionados em órbitas distintas na região espacial conhecida como Terra-Lua.
O espaço cislunar, como é chamado o domínio entre a órbita da Terra e a Lua, estende-se até 2 milhões de quilômetros e possui volume cerca de mil vezes maior que o espaço orbital terrestre.
O satélite DRO-A permanece em órbita retrógrada distante de forma contínua. O DRO-B realiza manobras na rota Terra-Lua. Já o DRO-L foi colocado em uma órbita heliossíncrona e conduz experimentos científicos e tecnológicos desde o lançamento. As operações são coordenadas pelo Centro de Tecnologia e Engenharia para Utilização Espacial (CSU), órgão vinculado à ACC.
Outro marco destacado pela ACC foi a realização bem-sucedida de uma conexão de medição e comunicação intersatélite na banda K, a uma distância de 1,17 milhão de quilômetros.
A ACC destacou ainda que a posição da órbita retrógrada distante, afastada tanto da Terra quanto da Lua e livre de obstruções, oferece condições favoráveis para o estabelecimento de canais de comunicação estáveis com espaçonaves em missão. Configuração que irá facilitar o envio de dados em tempo real e permitir respostas rápidas em situações emergenciais durante operações de exploração lunar.
Matéria produzida apoiada em informações e imagem da Agência Xinhua