Galípolo e os demais diretores do BC firmaram o compromisso de elevar novamente os juros da economia
O Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira (4) a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu – de forma unânime – elevar a Selic (taxa de juros da economia) em 1 ponto percentual, de 12,25 para 13,25%, na semana passada. No documento, o Copom, já sob a presidência de Gabriel Galípolo e com a maioria de diretores indicados pelo presidente Lula, defendeu que a área econômica do governo siga com sua agenda de medidas neoliberal de cortes de investimentos. E, para saciar a sede dos bancos por juros, o colegiado promete colocar a Selic em 14,25% ao ano, em sua próxima reunião, marcada para março.
“Com relação à política econômica de forma mais geral, o Comitê manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas. Em particular, o debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, defende Galípolo, que “reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal… têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária”, diz trecho da ata.
Desta forma, Gabriel Galípolo e os demais diretores do BC firmaram o compromisso de elevar novamente os juros da economia, reconhecendo que o aumento dos preços de alimentos “tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira. Com relação aos bens industrializados, o movimento recente do câmbio pressiona preços e margens, sugerindo maior aumento em tais componentes nos próximos meses”, diz outro trecho da ata.
Seguindo na mesma lógica de seu antecessor, o bolsonarista Roberto Campos Neto, Galípolo se empenha em colocar a economia em recessão, com a justificativa de colocar nos eixos uma inflação que vem sendo pressionada por questões sazonais e fatores externos, como altas dos preços de commodities, café, carnes e lacticínios, por exemplo, que estão sendo exportados a rodo pelos produtores internos ávidos por dólares – situações que não são afetadas pela política monetária de juros altos do BC.
A avaliação do Copom é que as ações de estímulos econômicos do governo estão atrapalhando a execução da política monetária contracionista do BC.
“O Comitê avalia que a conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito amplo tem dado suporte ao consumo e à demanda agregada”, diz a ata.
É fato que os indicadores econômicos nos últimos dois anos vêm apresentando números positivos, mas isso se dá principalmente pelo quadro de terra arrasada deixada pelo governo de Bolsonaro. Além disso, desde o segundo semestre de 2024, economistas e entidades ligadas ao setor produtivo têm apontado para o derretimento do movimento expansionista dos indicadores, frente ao resfriamento da economia brasileira.
A taxa de desemprego no Brasil, por exemplo, subiu ligeiramente para 6,2% da população ativa, no último trimestre de 2024 ante ao trimestre de julho a setembro de 2024 (6,4%). No trimestre de outubro a dezembro de 2024, havia aproximadamente 6,8 milhões de brasileiros na fila do desemprego, 200 mil pessoas a mais do que no trimestre anterior.
Somente em dezembro de 2024, ao todo, foram mais de meio milhão (535.547 mil) de postos de trabalho com carteira assinada eliminados no quarto trimestre de 2024, conforme o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho – resultado que superou às expectativas do governo e do próprio “mercado”, que calculavam números menores.
Além disso, há 40 milhões de trabalhadores no país na informalidade do trabalho – isto é quase a população total da Argentina (46 milhões). O trabalho informal é a atividade laboral sem carteira de trabalho, que não tem vínculo empregatício, pessoas que vivem de “bicos” – que estão condicionadas a jornadas exaustivas, remunerações miseráveis e sem os direitos assegurados na CLT.
Outro sinal negativo da economia é a demanda de empresas por recuperação judicial, que só cresce no país. Em 2024, ao todo, 2,2 mil empresas entraram com pedidos de recuperação judicial, o maior número da série histórica da pesquisa feita pela Serasa Experian. Um aumento de mais de 60% frente ao total de solicitações de 2023.
Em números absolutos, no ano passado, 949 empresas entraram com pedidos de falência no Brasil em 2024. Se não fosse o afrouxamento da legislação nas últimas décadas o volume de pedidos de falência já estaria na Lua.
Também no ano passado, havia 6,9 milhões de empresas com seus CNPJs negativados. Mas a “firme” perseguição da meta de inflação pelo Copom não só está piorando as condições financeiras das empresas, mas também matando o orçamento das famílias.
A proporção média de famílias com dívidas em atraso chegou em 29,3% do total de lares no país em dezembro de 2024. O resultado só não é pior do que o índice alcançado em 2022, de 30%, maior resultado da série histórica da pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Também como resultado do aperto monetário, a produção industrial do Brasil recuou 0,6% em novembro de 2024 ante outubro do mesmo ano, sendo a segunda queda mensal consecutiva da produção fabril – em outubro de 2024, o recuo foi de 0,2%-, segundo dados do IBGE.
Já as vendas do comércio varejista brasileiro registraram queda de 0,4% em novembro frente a outubro, enquanto o volume de serviços prestados no país recuou 0,9% na mesma base de comparação.
Por outra via, com o aumento da taxa Selic, a taxa de juros real (descontada a inflação) chega a quase 10% ao ano, tornando o Brasil no paraíso mundial do rentismo.
De um ano para o outro, o gasto do setor público (União, Estados/municípios e estatais) com o pagamento de juros foi elevado em R$ 232,1 bilhões ao atingir a soma de R$ 950,4 bilhões (8,05% do PIB) no final do ano passado. Em 2023, esse gasto foi de R$ 718,3 bilhões.
Como destaca a Confederação Nacional da Indústria (CNI), é “a crônica de uma morte anunciada”, ao criticar na semana passada o aumento da taxa Selic pelo Copom.
“Com a decisão, o Banco Central mostra que continua ponderando equivocadamente os fatos econômicos mais relevantes do cenário atual, principalmente no que diz respeito ao quadro fiscal e à desaceleração da atividade do país”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.
ANTONIO ROSA