Contra todos os dados da realidade, Campos Neto repete que a inflação brasileira é de demanda e chantageia o governo para que seja imposta política de arrocho fiscal
Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada nesta terça-feira (28), o BC afirmou que irá seguir com a taxa básica de juros alta “por período prolongado”. Não satisfeito, ameaçou com novas altas. Na semana passada, o Copom manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, afrontando o país que sofre as consequências nefastas dos juros reais mais altos do mundo.
Os efeitos sobre a economia provocaram uma queda de -0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no quarto trimestre de 2022. As expectativas para o primeiro e o segundo trimestres de 2023 são pessimistas, diante da baixa demanda por bens e serviços no país. Com a fraqueza da atividade econômica e a diminuição na geração de empregos neste início de ano, os dados já apontam para uma possível recessão.
Contra todas as evidências, o BC insistiu na afirmação de que a inflação brasileira é causada por excesso de demanda. Não importa que as montadoras já estejam parando a produção por falta de compradores, que grandes varejistas alertem para a retração das vendas, o BC repetiu que a alta de preços é movida por “excessos de demanda”. Que inicialmente era de bens e que atualmente se deslocou para o setor de serviços. Integrantes do governo têm defendido que a economia está ociosa e que não há pressão de preços por demanda.
O Copom disse que, por causa deste excesso de demanda, a desaceleração da economia em curso é “necessária” para assegurar a convergência da inflação para suas metas. “Tal processo demanda serenidade e paciência na condução da política monetária para garantir a convergência da inflação para suas metas”, afirma na ata. Ou seja, Campos Neto quer paciência dos brasileiros para que ele siga mantendo metas irreais – como disse Lula – de inflação e provoque uma grave recessão no país.
Além de manter juros que estão inviabilizando a produção e consumo, o BC quer também chantagear o governo para que aceite a política fiscal ainda mais restritiva ou vai aumentar mais as taxas futuras. “O comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, disse na ata.
Ameaça também qualquer tentativa do governo de alterar as metas de inflação. “O comitê avalia que a credibilidade das metas perseguidas é um ingrediente fundamental do regime de metas de inflação e contribui para o bom funcionamento do canal de expectativas, tornando a desinflação mais veloz e menos custosa. Nesse sentido, decisões que induzam uma reancoragem das expectativas reduziriam o custo desinflacionário e as incertezas associados a esse processo”, disse a ata.
Fica evidente também com a ata divulgada nesta terça-feira (28) que o Banco Central (BC) pretende se intrometer até na política fiscal do governo. Campos Neto afirmou que “manteve sua governança usual de incorporar as políticas já aprovadas em lei”, mas “reconhece” que a execução do pacote fiscal anunciado pelo Ministério da Fazenda “atenuaria os estímulos” sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação. Em síntese, o BC chantageia o governo para que ele imponha mais arrocho para reduzir ainda mais a demanda que já está deprimida.
De todos esses trechos, as únicas conclusões a que se pode chegar são: se prevalecer a política do BC, os juros no Brasil seguirão mantidos na lua diante da sua estratégia de cumprir a meta de inflação; que o Copom não se importa que os setores produtivos e os empregos irão parar na cova por conta desta estratégia. Aliás, parece ser esse mesmo o objetivo do BC, ou seja, decretar a morte do setor produtivo, como disse Joseph Stiglitz, vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2001.