Decisão de subir meio ponto a Selic custará R$ 20 bilhões aos cofres públicos este ano. E eles ameaçam elevar ainda mais
Os diretores do Banco Central (BC) divulgaram na terça-feira (12) a ata com Copom (Comitê de Política Monetária) onde justificam a elevação dos juros em 0,50 p.p. e ameaçam com um ciclo de alta de juros mais longo no país. A decisão faz parte da chantagem dos banqueiros sobre o governo Lula para que este anuncie um pacote de corte “estruturais” em investimentos públicos e programas sociais.
Os membros do Copom julgaram “adequado realizar um aumento de maior magnitude na taxa Selic, de 0,50 ponto percentual, e, sem terem porque se imiscuírem nos assuntos referentes ao orçamento, defenderam uma “política fiscal crível”. Ou seja, se somaram à pressão dos bancos para que o governo “reforce o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos”.
Economistas destacaram que, como cada ponto percentual de elevação da Selic significa uma alta de despesa do Tesouro Nacional de R$ 40 bilhões anuais, esse aumento decidido pelo BC na semana passada significou um gasto do Tesouro de mais R$ 20 bilhões no ano. Ao mesmo tempo que sobem os gastos com bancos, querem cortar dos mais pobres.
Para tentar justificar a terceira maior taxa de juros do mundo, o Copom argumentou que “a condução da política monetária – leia-se, juros na Lua – é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade”. Traduzindo: eles vão continuar com juros altos para tirar dinheiro do orçamento e garantir mais recursos para a especulação financeira.
Na quarta-feira (2/11), em decisão unânime, o Copom elevou a taxa de juros básica de 10,5% para 11,25% ao ano, como exigia o “mercado financeiro”. A elevação dos juros fizera parte do frenesi do bancos e sua mídia para que os Ministérios da Fazenda e do Planejamento anunciassem os cortes de verbas para benefícios previdenciários, para o Benefício de Prestação Continuada (BPC), para o seguro-desemprego, o abono salarial, etc…, além do fim dos pisos constitucionais de investimentos em saúde e educação.
A desvinculação dos benefícios previdenciários e assistenciais em relação ao salário mínimo também figura na lista do “choque fiscal”, proposto pela equipe econômica, com a justificativa de equilibrar as contas públicas. O mercado financeiro e seus porta-vozes na mídia abriram uma ampla campanha para pressionar o presidente Lula a se dobrar à “ditadura” do rentismo.
O “mercado”, que nada mais é do que meia dúzia de monopólios financeiros, especulam com o dólar – que chegou a valorizar 1% em um dia -, com máxima chegando a R$ 5,81, para chantagear o governo a fazer o que ele quer. Os juros futuros (DIs) também são usados na chantagem e dispararam, ultrapassando os 13% em boa parte da curva do começo ao fim da sessão do Ibovespa.
Os economistas do mercado financeiro também voltaram a elevar as estimativas para a inflação deste ano, que saiu de 4,59% para 4,62%. Essa foi a sexta alta consecutiva das projeções de inflação do Boletim Focus do BC – alvo de apuração pelo Ministério Público, em virtude de denúncia de manipulação nos resultados para definir a taxa Selic.
Em setembro, o setor público consolidado (União, Estados/municípios e estatais) gastou R$ 819,7 bilhões (7,19% do Produto Interno Bruto (PIB) com o pagamento de juros da dívida pública – resultado no acumulado de 12 meses.
Para sangrar ainda mais os cofres públicos com o gasto dos juros, os banqueiros já defendem um acréscimo de 0,75 p.p., o que jogaria a Selic para 12,50% em dezembro deste ano. O gasto com juros não é limitado por nenhuma regra de controle fiscal, ao contrário das despesas primárias, como programas sociais e investimentos, essenciais para trazer dignidade ao povo, além de desenvolver o país.