O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, declarou que Jair Bolsonaro usou vídeo comparando a Corte a hienas como “cortina de fumaça” para abafar os novos áudios incriminadores de Fabrício Queiroz, assessor de seu filho Flávio, quando este era deputado estadual no Rio de Janeiro.
No vídeo publicado – e logo deletado – em seu Twitter, Bolsonaro aparece como um leão que é cercado por hienas. As hienas são o STF, a Globo, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seu próprio partido, o PSL e outras instituições. Com a ajuda de outro leão, o “conservador patriota” Bolsonaro afasta seus inimigos.
“Eu tenho que nada surge sem uma causa. Qual seria a causa? Qual é o descontentamento com o Supremo? Não acredito que haja descontentamento com o Supremo. Agora, é uma coincidência muito grande que esse foco surja justamente numa hora em que aparecem essas coisas envolvendo o assessor Queiroz”, comentou o ministro Marco Aurélio Mello.
Nos áudios revelados na segunda-feira (28), Queiroz, também motorista de Flávio Bolsonaro, que recolhia parte dos salários dos assessores, comenta o esquema da “rachadinha” nos gabinetes.
“Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara e no Senado. Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles em nada, em nada. Vinte continho aí pra gente caía bem pra caralho, caía bem pra caralho, meu irmão, entendeu?”.
Em outro, reclama que Jair Bolsonaro só tem protegido a seu filho Flávio, deixando-o de lado.
“É o que eu falo, o cara lá tá hiper protegido, eu não vejo ninguém mover nada pra tentar me ajudar aí, entendeu?. É só porrada, cara. Caralho, o MP tá com uma pica do tamanho de um cometa pra enterrar na gente e não tem ninguém agindo”, reclamou.
As investigações sobre Flávio e Queiroz começaram quando o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) detectou movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz na ordem de R$ 7 milhões de janeiro de 2014 a janeiro de 2017. A investigação foi suspensa pelo ministro do STF, Gilmar Mendes.
“Nesses tempos estranhos, tudo é possível, até mesmo essa cortina de fumaça. Tática rasteira no que enxovalha a instituição básica da República, guarda da Constituição, o Supremo”, disse Marco Aurélio.
“O exemplo, especialmente para o cidadão leigo, vem de cima. É deplorável. Aonde vamos parar? O Brasil precisa estar focado em coisas boas, construtivas, positivas, visando o bem-estar de todos e não em futricas rasteiras”.
O ministro do STF, Celso de Mello, também criticou os ataques de Jair Bolsonaro à Corte.
“Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de ‘gravitas’ e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República”, afirmou.
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