“Eu não conseguia nem dizer onde estava ou o que estava acontecendo. Olhei ao redor, todas as outras tendas estavam derrubadas, partes de corpos, corpos por todo lado, mulheres idosas jogadas no chão, crianças pequenas em pedaços”, disse o sobrevivente Sheikh Youssef, deslocado para Al-Mawasi, agora atacado
Após Israel ter obrigado os palestinos a abandonar o norte da Faixa de Gaza e a se concentrarem em Al-Mawasi – designada pelo próprio governo de Benjamin Netanyahu como “zona humanitária” -, o Exército de ocupação disparou mísseis neste sábado (13) contra os refugiados nas tendas e também explodiram prédios.
Pessoas deslocadas abrigadas na área disseram que suas tendas foram derrubadas pela força dos mísseis, descrevendo o horror de corpos e partes de corpos espalhados no chão. “Eu não conseguia nem dizer onde estava ou o que estava acontecendo. Saí da tenda e olhei ao redor, todas as outras estavam derrubadas, partes de corpos, corpos por todo lado, mulheres idosas jogadas no chão, crianças pequenas em pedaços”, disse Sheikh Youssef, morador da Cidade de Gaza que atualmente está deslocado na área de Al-Mawasi ao relatar o morticínio de civis, divulgado pela agência de notícias Sputnik.
Direcionado ao coração do local, a oeste da cidade de Khan Younis, a carnificina deixou pelo menos 90 mortos, 300 feridos e ainda mantém sob os escombros dos prédios atacados, um número indefinido de palestinos. Inicialmente foram divulgadas 71 mortes e 295 feridos, depois atualizados às 15 horas deste sábado pela Sputnik.
Conforme o Crescente Vermelho conseguiu apurar logo após o término dos ataques, ambulâncias transportaram ao menos 32 corpos – a maioria crianças e mulheres – e 102 feridos para os hospitais da região. Desesperado, relatou à reportagem da CNN, que “os moradores também transportam as vítimas para os hospitais em automóveis, carroças puxadas por animais e nos próprios ombros”.
“Ainda há muitos corpos de mártires espalhados nas ruas, sob os escombros e entre as tendas dos deslocados, inacessíveis devido à intensidade dos bombardeios com que a ocupação atingiu o local”, disse o porta-voz da Defesa Civil, Mahmoud Basal, descrevendo o que aconteceu como um “novo massacre”.
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, os hospitais Kuwait e Nasser estão enfrentando sérias dificuldades para lidar com o elevado número de feridos. A prioridade tem sido os casos mais graves – com muitas amputações -, diante da destruição de hospitais e postos de saúde, da morte de profissionais e da falta de medicamentos, perpetrados por Netanyahu o início de outubro.
O diretor do hospital Kuwait, em Rafah, Suhaib al-Hams, descreveu a situação como um “verdadeiro inferno”, ainda mais porque a maioria dos ferimentos exige maior tempo de acompanhamento e há superlotação.
Com o banho de sangue, Israel reforça sua política de transformar Gaza de maior campo de concentração do mundo na principal zona de extermínio. Fontes palestinas apontaram que três mísseis atingiram o centro da área humanitária, superpovoada pelo deslocamento forçado desde o início da operação militar israelense. No mês de maio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que de 60.000 a 75.000 pessoas sobreviviam no campo de refugiados em condições precárias.
Como é de praxe, após colocar em prática sua política de extermínio, as tropas de ocupação de Netanyahu alegaram ter como alvo os “terroristas” Mohamed Deif, comandante das Brigadas al-Qassam, da ala militar do Hamas, e o oficial de Khan Yunis, Rafi Salama.
Negando a versão israelense de que Deif e Salama seriam os alvos, o Hamas chamou as mortes de “massacre horrível”. “As alegações da ocupação de que o alvo eram os líderes são falsas, e esta não é a primeira vez que a ocupação afirma ter como alvo os líderes palestinos apenas para que as suas mentiras sejam expostas mais tarde”, concluiu o comunicado.