“Usar uniformes e jalecos brancos é como usar uma marca de alvo nas costas”, diz a médica Tanya Hassan da ONG Medical Aid to the Palestinians
“Atacar deliberadamente hospitais e locais onde os doentes e feridos são tratados é um crime de guerra. Sob certas circunstâncias, a destruição deliberada de instalações de saúde pode constituir uma forma de punição coletiva, que também é um crime de guerra”, denunciou Volker Türk, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos no Conselho de Segurança em sua reunião extraordinária na sexta-feira (3) para tratar da destruição dos hospitais de Gaza pelas tropas de Israel.
Presidida pela Argélia, a reunião de emergência do órgão decisório da ONU tratou dos ataques de Israel à infraestrutura de saúde e seus trabalhadores em Gaza. O colapso programado da saúde em território palestino é mais um método que Israel usa para expandir o genocídio contra o povo palestino.
“Uma catástrofe de direitos humanos continua a se desenrolar em Gaza diante dos olhos do mundo,” acrescentou Volker Türk, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos.
“O setor de saúde está sendo sistematicamente desmantelado,” disse o Dr Rik Peeperkorn, Representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Cisjordânia e Gaza. “No ritmo atual, levaria de cinco a 10 anos para evacuar todos esses pacientes gravemente enfermos.”
Peeperkorn relatou que a OMS verificou 654 ataques a instalações de saúde em Gaza, deixando um rastro de mortos e feridos. “Os hospitais se tornaram campos de batalha”, denunciou o representante da OMS.
A lista de espera para tratamento no exterior já supera 12.000 pacientes. Dos 105.000 feridos, 25% deles estão com lesões que irão afetá-los para o resto de suas vidas, como mutilações.
Segundo o relatório publicado pelo gabinete de Türk, os ataques aos hospitais em Gaza começam com bombardeios seguidos por invasões do exército israelense, prisões em massa de médicos e pacientes, e despejos forçados. Quando as tropas israelenses se retiram, o hospital atacado é deixado sem funcionamento.
Desde outubro de 2023, mais de 1.000 profissionais de saúde foram mortos em Gaza. Cerca de 7% da população da Faixa de Gaza foram mortos ou feridos desde 2023.
Türk também apontou que o ataque ao Hospital Kamal Adwan, na semana passada, segue o mesmo padrão de destruição. O hospital, que foi deixado em chamas, era o último que funcionava ao norte de Gaza.
“Alguns funcionários e pacientes foram forçados a deixar o hospital, enquanto outros, incluindo o diretor-geral, foram detidos, e há muitos relatos de tortura e maus-tratos,” disse Türk. “Os ataques) foram especialmente devastadores para certos civis palestinos. Seis bebês morreram de hipotermia apenas nos últimos dias. “A proteção dos hospitais durante a guerra é fundamental e deve ser respeitada por todas as partes, em todos os momentos,” acrescentou Volker Türk.
O alto comissário também pediu por “investigações independentes, completas e transparentes sobre todos os ataques israelenses a hospitais, infraestrutura de saúde e pessoal médico, bem como sobre o suposto uso indevido de tais instalações.”
“Os profissionais de saúde se tornaram um alvo claro da violência militar de Israel,” disse a Dra. Tanya Hai Hassan, da ONG de ajuda humanitária ‘Medical Aid to the Palestinians’. Ela relatou como seus colegas palestinos “nos dizem que são alvos porque são profissionais de saúde. Que usar uniformes e jalecos brancos é como usar uma marca de alvo nas costas.”